Editores:
Michel Cahen (Laboratoire « Les Afriques dans le monde », Sciences Po Bordeaux/CNRS, France)
Yves Léonard (Centre d’Histoire de Sciences Po Paris, France)
Na noite de 24 de Abril de 1974, os agora famosos “Capitães de Abril” começaram o seu golpe de estado em nome de um programa simples, o dos “três D”: descolonizar, democratizar e desenvolver. Acima de tudo, era uma questão de pôr fim a quase catorze anos de guerra colonial, uma guerra que não podia ser ganha militarmente, que isolou Portugal na cena internacional, que queimou quase metade do orçamento do Estado e que levou os jovens ao exílio para evitar ir combater. O antigo regime caiu no dia seguinte, no júbilo popular. Enquanto os militares exigiam calma e, se possível, que as pessoas ficassem em casa, as enormes manifestações de 1 de Maio de 1974 mostraram que o golpe de Estado se tinha tornado uma revolução, inicialmente sobre temas democráticos mas rapidamente sobre temas sociais, até socialistas.
Cinquenta anos após 25 de Abril de 1974, a Lusotopie publica um dossiê especial para estudar aspetos desta revolução que podem ter sido subestudados. A revista está também associada ao colóquio a realizar na Universidade de Rennes 2, de 30-31 de maio a 1° de junho de 2024. A Lusotopie encoraja os autores que forem pré-selecionados para o dossiê a virem apresentar os seus artigos como comunicações neste colóquio, que será assim uma oportunidade para discutir publicamente cada texto.
A Revolução dos Cravos, uma revolução portuguesa
O termo “O 25 de Abril” é polissémico, questionando a história política e social, bem como a história cultural, económica e das relações internacionais. No entanto, pensar no 25 de Abril como um facto nacional, como uma nação que fala a si própria, é tanto central como, na maioria das vezes, omitido. A nação, em grande parte identificada com o discurso salazarista sobre “uma nação, do Minho a Timor” e a exaltação da “portugalidade”, teve uma má imprensa na primavera de 1974, desacreditada por quase meio século de ditadura e pelas guerras coloniais.
A Europa apareceu então rapidamente como um substituto conveniente, em torno do slogan “O império está morto, viva a Europa!” A conjunção do sentimento nacional e do imperativo social poderia ter dado um tom completamente diferente aos Cravos de Abril, à imagem dos soldados do Ano II (1793), evocados por Victor Hugo, “que lutaram como revolucionários e patriotas”.
Cinquenta anos depois, o objetivo aqui é questionar as interações entre o 25 de Abril e a nação portuguesa, e fazê-lo em particular a partir de um ângulo político e ideológico, como sinónimo do fim de “uma certa ideia de Portugal” e como “momento histórico em que o povo se tornou o Povo”, para retomar a definição da nação proposta por Pascal Ory (Qu'est-ce qu'une nation? Gallimard, 2020). Será que a Revolução dos Cravos mudou profundamente a imagem que os portugueses – pelo menos as novas gerações – têm da sua própria nação? Será que a Europa apagou uma certa nostalgia do Império? Que desafios representa, com a sua vasta dimensão e população, para um país que voltou a ser o “pequeno retângulo metropolitano”? Será que a extraordinária modernização do país enfraqueceu o apego à pátria?
Estas questões podem levar a outras, sem o objetivo de fazer uma avaliação: trata-se antes de continuar a história da nação portuguesa, através da contribuição de vários documentos que questionam o “facto de consciência” português neste momento crucial.
A Revolução dos Cravos, uma revolução mundial
Na sua própria génese, a revolução portuguesa foi internacional, pois foi o produto combinado da revolução anticolonial africana e do crescente cansaço dos portugueses para com um regime que já não fazia sentido para as gerações mais jovens.
Mas para além do facto de ter tido um enorme impacto em muitos países – como em França, onde parecia compensar de alguma forma o drama do golpe de Estado de Pinochet no Chile apenas sete meses antes (11 de Setembro de 1973) – e para além do facto de jovens ocidentais terem ido para Lisboa em “turismo revolucionário” para “ver a revolução”, o 25 de Abril também teve impacto nas comunidades e nos estados que de uma forma ou de outra estavam ligados à história portuguesa. As seguintes questões podem ser colocadas:
– Quais foram as repercussões e os efeitos da Revolução dos Cravos nas comunidades portuguesas que emigraram para a Europa Ocidental (França, Inglaterra, Alemanha Ocidental, Suíça, etc.), Canadá, Estados Unidos, Brasil, Venezuela, etc.?
– Como reagiram os “países de Leste” no início do processo?
– Como é que os países que tinham entrado em conflito com Portugal (como a Índia em 1961 durante a captura de Goa), ou que apoiaram a resistência portuguesa antifascista e anticolonialista (como Marrocos e Argélia) viveram o surto e o desenvolvimento desta revolução?
– Como é que os países que apoiaram o esforço colonial português reagiram ao golpe (África do Sul do Apartheid, Rodésia do Sul, ou, de uma forma mais complexa, o Brasil dos militares, ou a Espanha do franquismo tardio)? E como é que aqueles que insistiram nas negociações (como o Senegal de Senghor) reagiram?
Modalidades
A edição especial da Lusotopie, que inclui o dossiê dos Cinquenta anos do 25 de Abril de 1974, será publicada em dezembro de 2024. Os resumos dos artigos propostos deverão ser apresentados até ao final de setembro de 2023. Os autores serão informados da aceitação ou não das suas propostas o mais tardar até novembro de 2023. Os artigos devem então ser recebidos até ao final de janeiro de 2024, para serem submetidos à revisão em dupla ocultação. Os autores cujos artigos tenham sido aceites (sem modificações ou com ligeiras modificações) ou condicionalmente aceites (com modificações substanciais) serão convidados a submeter a versão “pré-final” até ao final de abril de 2024. Serão encorajados a inscreverem-se no “Colloque du Cinquantenaire” da Universidade de Rennes 2 (30-31 de maio e 1° de junho 2024) para apresentarem o seu trabalho e discutirem-no em workshops. Estas discussões poderão resultar em mais modificações aos artigos. A versão final dos textos deverá ser recebida pela Lusotopie até ao final de julho, o mais tardar. Os artigos podem ser escritos em francês, português ou inglês (para outras línguas, por favor contacte-nos).
A revista Lusotopie é publicada desde 1994 e, durante muito tempo, foi acolhida por Sciences Po Bordeaux e pelo seu Centro de Estudos da África Negra (1994-2009). É agora uma revista eletrónica semestral em acesso livre (<https://journals.openedition.org/lusotopie/>), publicada pelo Instituto de Etnologia Mediterrânica, Europeia e Comparativa (Idemec, UMR n.° 7307 Universidade de Aix-Marseille e CNRS). A Lusotopie dedica-se à análise da política nos espaços contemporâneos resultantes da história e colonização portuguesas. A sua originalidade consiste em trabalhar num espaço pós-colonial e heterogéneo, presente em quatro continentes e em numerosas diásporas.
Datas de preparação :
– publicação da convocatória de trabalhos: março de 2023
– prazo para a apresentação de resumos: fim de setembro de 2023
– seleção de resumos: final de novembro de 2023, o mais tardar
– prazo para apresentação de trabalhos: fim de janeiro de 2024
– publicação dos resultados da avaliação em dupla ocultação: final de abril de 2024
– datas da conferência na Universidade de Rennes 2: 30-31 de maio e 1° de junho de 2024
– prazo para a receção da versão final dos artigos: fim de julho de 2024
– publicação da edição especial de Lusotopie: dezembro 2024
O dossiê da revista Lusotopie sobre o quinquagésimo aniversário da Revolução dos Cravos é coordenado por Yves Léonard (Centre d’Histoire de Sciences Po Paris) e Michel Cahen (Laboratoire “Les Afriques dans le monde”, Sciences Po Bordeaux/CNRS). Correspondência, resumos e artigos devem ser enviados simultaneamente para os endereços dos dois últimos: <O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; e <O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.;, bem como para o endereço editorial <O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.;.
Mais informações sobre a revista Lusotopie: <https://journals.openedition.org/lusotopie/>.
Para o Colóquio Rennes, escrever a André Belo: <O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.;.
REVISTA LUSOTOPIE
Informações adicionais
- Tema: A “Revolução dos Cravos”, uma revolução portuguesa e mundial
- Prazo: 30/09/2023
- Site: Clique aqui para acessar
Lido 920 vezes
ANAIS DE EVENTOS
-
04 Abr 2019
- Período 01 a 05/10/2018
- Local Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO
- Arquivos Clique aqui para acessar os anais deste evento
-
04 Nov 2021
- Período 04 a 08/10/2021
- Local Universidade Federal do Ceará - Fortaleza
- Arquivos Clique aqui para acessar o caderno de resumos
-
18 Jan 2022
- Período 04 a 08/10/2021
- Local Universidade Federal do Ceará - Fortaleza
- Arquivos Clique aqui para acessar
EVENTOS
-
05 Dez 2023
- Período 05 a 07/12/2023
- Local on-line
- Site Clique aqui para acessar
-
05 Dez 2023
- Período 05 a 08/12/2023
- Local Universidade de Brasília
- Site Clique aqui para acessar
-
30 Nov 2023
- Período 28 a 30/11/2023
- Local ON-LINE
- Site Clique aqui para acessar
-
29 Nov 2023
- Período 29/11 a 01/12/2023
- Local Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
- Site Clique aqui para acessar