Destaque (152)

Relatos de professores na pandemia (31/05)

Parece que apenas algumas mortes são passíveis de luto, enquanto algumas vidas são descartáveis. As perdas, o sofrimento e a dor de alguns grupos sociais tornaram-se banais. Tomado por essa ideia surreal, vislumbro o retorno às salas de aula... Alguns professores e estudantes, eventualmente, não retornaremos. Alguns terão o assombro da morte na família, pais, irmãos, filhos, avós. Alguns terão conhecidos dos círculos de amizade e vizinhança afetados. A crise econômica ainda não totalmente dimensionada, que acompanha a pandemia, já afeta milhões. Como retornar ao emaranhado fictício de competências gerais e específicas, às habilidades e aos objetivos de aprendizagem dos documentos pedagógicos oficiais? Como conjugar as mortes do mundo real com a abstração alfa numérica das propostas curriculares oficiais? Como harmonizar o luto e a pobreza com os desígnios dos reformadores empresariais ávidos por re$ultado$? Como convergir afetos de professores e estudantes implicados na mesma dor? 
Segunda, 31 Maio 2021 Por

Relatos de professores na pandemia (24/05)

"A suspensão das aulas provocou um estado de incertezas e abriu caminho para muitas angústias. A gestão da minha escola preocupada em atender aos estudos dos alunos organizou o envio de atividades em plataformas de estudo a cada semana. Para muitos e para mim o confronto com novas tecnologias voltadas ao ensino e aprendizagem era território alienígena. O cotidiano desse enfrentamento era tenso. Num dia frio de agosto, meus colegas reclamaram do excesso de atividades e das horas dedicadas aos atendimentos pelo celular a fim de sanar as duvidas dos alunos e na montagem das atividades. Uma colega com filha recém-nascida e sem ter com quem deixar sua bebê, desabou a chorar de toda aquela rotina. Meu coordenador sempre firme baixou a cabeça e não deixou que vissem a transfiguração do seu semblante pois do mesmo modo estava cansado. Aproveitei, abri a câmera da plataforma e desabei reclamar com a voz embargada." A. L. F., professor, Tietê.
Segunda, 24 Maio 2021 Por

Relatos de professores na pandemia (27/04)

"Foi um susto, uma angústia, um grande desafio. O ano de 2020 foi um ano muito difícil, mas foi vencido pela luta dos professores, mesmo que muitos tenham sido vencidos pelo vírus. Perdemos amigos, muitos adoeceram física e emocionalmente, famílias inteiras de professores foram contaminadas. Iniciamos 2021, mais um ano de luta contra o vírus mortal e suas variantes, mais um ano de luta contra um governo executivo boçal e suas lambanças. Para a Secretaria de Educação e para alguns teóricos muito “preocupados” com as perdas dos alunos, que nunca pisaram no “chão da escola”, mas representam institutos patrocinadores, as aulas presenciais deveriam voltar de qualquer maneira. E voltaram! Passou a valer a “lei do silêncio”, do MEDO que cala as vozes dissonantes do sistema adotado. A loucura continua e só piora. Há algo de muito errado, não há lucidez que se mantenha diante de tantas mudanças e cobranças."
(A.B., Professora, São Paulo)
Terça, 27 Abril 2021 Por

Relatos de professores na pandemia (19/04)

"Desde o início da pandemia, a diretora e dona da escola em que trabalho e seu filho, professor da instituição, se esforçaram mais em negar a doença e espalhar fake news, do que em gerir um projeto para facilitar as aulas. Muitos aplicativos foram testados, o que confundiu e atrapalhou alunos e professores: no final do ano nenhum docente utilizava o mesmo método de recebimento e envio de atividades.

Em 2021 poucas coisas mudaram, a volta às aulas presenciais não foi realizada de acordo com as regras, as salas contavam com 50% a 100% dos alunos, muitos funcionários e professores sem máscara, alguns apenas com faceshield. Uma professora e dois alunos se contaminaram. A docente foi orientada, pela direção da escola, no retorno após 14 dias de afastamento, a dizer que pegou uma alergia forte. Por sorte, na semana seguinte, o governo de São Paulo decretou o retorno às aulas remotas."

Segunda, 19 Abril 2021 Por

Relatos de professores na pandemia (06/04)

LUTO PELOS MORTOS DA PANDEMIA
LUTA COM OS PROFESSORES
LUTAS DA HISTÓRIA
A Associação Nacional de História-Seção São Paulo, ANPUH-SP, abre um espaço em sua página e redes sociais para divulgação de relatos de professores de História da Educação Básica sobre o cotidiano desses profissionais durante o período de pandemia. Semanalmente divulgaremos um novo relato, que sirva como manifesto e registro documental desses tempos brutos em que vivemos.
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#pracegoler
 
"Uma pergunta me acompanha: será que é mesmo necessária a escola no meio de tudo o que estamos vivendo? Sou assaltada pela ideia de que não há o que ensinar diante do sofrimento de pessoas que perdem seus entes queridos, seu trabalho e da preocupação por adoecer e ver adoecer quem sem ama. (...) Professores precisam produzir materiais e videoaulas sem ter nenhum preparo ou apoio. Preenchem relatórios e mais relatórios para provar que estão trabalhando. Estão conectados a qualquer hora e, mesmo assim, há quem defenda que estão ganhando para não trabalhar. (...) Não é raro receber mensagens de estudantes que já não podem estudar, pois precisam ajudar a colocar comida em casa, receber pedidos de desculpas por não poder acompanhar as atividades, pois há alguém doente na família. (...) Não gostaríamos de ser mais uma preocupação diante de tantas que nossos estudantes já têm. "
F.P.C., professora, São Paulo.
Terça, 06 Abril 2021 Por

DITADURA NUNCA MAIS

O Golpe Cívico-Militar iniciado dia 31 de março de 1964, no Brasil, abriu caminho para 21 anos de ditadura alimentada por progressiva restrição de liberdades, por violações de direitos civis, políticos e humanos, pela perseguição e intolerância diante da crítica, pela violência de Estado apoiada por interesses estranhos à soberania nacional e pelo desprezo aos valores democráticos.
Nesse longo período, o Estado foi responsável por perseguição, exilar, torturar, assassinar ou provocar o desaparecimento de milhares de brasileiras(os), além de promover intervenção, censura prévia e constante tentativa de controle sobre sindicatos de trabalhadores, movimento estudantil, universidades, imprensa, manifestações artísticas.
Quase 60 anos depois, por um impensável retrocesso para a triste memória do que foi a Ditadura, o governo federal reivindica o direito de comemorar o início do período mais obscuro para a democracia e a vida neste país.
Esse desejo de celebrar a violência não pode ser subestimado nem tolerado. Não há absolutamente nada a celebrar, só o que há é a necessidade de expressar o repúdio total e irrestrito a tudo o que foi e ainda representa a Ditadura, cujos impactos não apenas se sentiram durante sua vigência mas atravessam a sociedade brasileira até os nossos dias.
Um golpe de governo não deve ser comemorado, nem esquecido. Deve-se compreendê-lo, discuti-lo e refletir sobre suas consequências, como um alerta permanente. Para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça. Para que a democracia se fortaleça.
Quarta, 31 Março 2021 Por

Relatos de professores na pandemia (30/03)

"Quanta falta faz pisar no chão da fábrica, ops, no assoalho da escola! Não piso numa sala de aula desde março de 2020. Uma das atividades que me fazia sentir vivo era o ambiente escolar. A sua dinâmica, imprevisibilidade e as relações construídas são elementos que fazem da escola um lugar vivo. Hoje não existe mais escola. (...) Não foi a pandemia responsável por este estado de coisas que assola este espaço de trabalho. Foram anos, décadas de descaso com a educação e falta de políticas públicas que selaram o fim da escola. (...) O virtual suplantou o vivo. Poucos estudantes reúnem condições materiais para acompanhar as aulas remotas. (...) Hoje estou em greve. (...) Sei que não verei mais aquela escola de antes da pandemia, mas espero que se preserve, pelo menos, a vivacidade de outrora."
C.S.S., Professor, São Paulo.
Terça, 30 Março 2021 Por

Relatos de professores na pandemia (22/03)

"O mundo está ao contrário e ninguém reparou, cantou Cássia Eller décadas atrás, e foi preciso uma hecatombe para que coisas básicas ficassem claras para a maioria das pessoas. Falo principalmente do trabalho do professor (...), agora percebemos o quão insubstituível é esse profissional. (...) Talvez fique a lição para as décadas vindouras. (...) Há uma sobrecarga de tarefas que pesa principalmente sobre os professores menos informatizados. (...) A cultura escolar sofre seu mais sério abalo (...). O controle sobre o tempo e o espaço dos alunos e professores que a escola tinha foi quebrado. (...) Trabalhar em home office exige uma preparação psicológica e tecnológica que a maioria das pessoas não tem. Filhos em casa, falta de espaço adequado, rotina dispersa e nos sentimos improdutivos. (...) Otimista, quero crer que surgirá coisa boa desses escombros, mas, de fato, não há nenhum sinal de melhora no horizonte próximo."
F. B., Professor, Paraguaçu Paulista.
Segunda, 22 Março 2021 Por

NOTA DE PESAR

Em nome da diretoria da ANPUH-Seção São Paulo nos solidarizamos com a família de nosso companheiro Eduardo Nunes, 2º Tesoureiro.
Exatamente há uma semana, no dia 19/03/2021, faleceu seu pai, Édison Armando de Franco Nunes, e no dia 20/03/2021, sua mãe, Cléa Bernadete Silveira Netto Nunes. Neste momento de dor e de luto, registramos nossas condolências à família, que assim como tantas outras tem vivido situações que, como essa, poderiam ter sido evitadas.
Sexta, 26 Março 2021 Por

Relatos de professores na pandemia (15/03)

"De repente, sem ir e vir e sem noção do que estava acontecendo: suspensão de aulas, orientações contraditórias, confusão; e todos atônitos, crendo que, mais uma vez, haveria medidas práticas e eficientes dos governantes e secretarias de saúde contra a nova pandemia. (...). Mas não. (...) A carga de trabalho aumentou imensamente, pois nós, professoras e professores, temos que estar conectados à sala de aula nos respectivos horários estabelecidos, além de participar de reuniões e, também, atender alunos e alunas em qualquer horário, pelo WhatsApp, por exemplo. (...) A burocracia está excessiva, mesmo virtualmente há uma grande cobrança. (...) E as aulas se tornaram mais formais. E as pessoas, mais tristes e apreensivas. Mas ainda temos esperança de que tudo isso um dia se acabe e permaneça no passado. E que sirva de lição para nos tornarmos mais humanos e solidários. E que se mudem e se excluam as más políticas e os maus políticos."
Segunda, 15 Março 2021 Por
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