Chamada de artigos - ABERTA

Dossiês com chamada de artigos aberta para os próximos números da Revista Brasileira de História: 

DOSSIÊ: CRÍTICA ANTICOLONIAL NO IMPÉRIO PORTUGUÊS: PERSPECTIVAS CULTURAIS E POLÍTICAS (v. 43, n. 93; maio-agosto de 2023)
Organizadore/as: Adelaide Vieira Machado (CHAM/Universidade Nova de Lisboa); Hélder Garmes (FFLCH/USP); Marcello Assunção (DEE/UFRGS)
Prazo final de submissão: 10 de dezembro de 2022.

DOSSIÊ: CONFRONTANDO A EUGENIA: NOVAS PERSPECTIVAS E abordagens (v. 43, n. 94; setembro-dezembro de 2023)
Organizadore/as: Pietra Diwan (Universidade Estadual de Maringá, Paraná); Marius Turda (Oxford Brookes University, Inglaterra)
Prazo final de submissão: 10 de abril de 2023.

DOSSIÊ: MATERIALIDADES EMERGENTES: RUMO A UMA HISTÓRIA CONECTADA DE OBJETOS NAS
FRONTEIRAS DA AMÉRICA COLONIAL (v. 44, n. 95, janeiro-abril de 2024)
Organizadores: Eduardo Neumann (UFRGS); Guillermo Wilde (CONICET-UNSAM)
Prazo final de submissão: 10 de julho de 2023.

 

Todas as submissões devem ser realizadas no seguinte link: https://submission.scielo.br/index.php/rbh/

 

Ementas

DOSSIÊ: CRÍTICA ANTICOLONIAL NO IMPÉRIO PORTUGUÊS: PERSPECTIVAS CULTURAIS E POLÍTICAS (v. 43, n. 93; maio-agosto de 2023)
Organizadore/as: Adelaide Vieira Machado (CHAM/Universidade Nova de Lisboa); Hélder Garmes (FFLCH/USP); Marcello Assunção (DEE/UFRGS)
Prazo final de submissão: 10 de dezembro de 2022.

O presente dossiê tem por foco fazer um recorte diacrônico na crítica anticolonial nos séculos XIX, XX e XXI, com a finalidade de assinalar vozes portuguesas presentes nas redes de escritores, críticos literários e intelectuais que produziram obras contrárias ao regime colonial, incentivando, assim, a prática de uma literatura de resistência nas colônias, centrada na afirmação das culturas locais e na independência política. Nesse
conjunto de autores e obras, é inevitável tratar também de escritores e intelectuais provenientes das colônias, que, pós-independências, vão se tornar autores canônicos de suas futuras literaturas nacionais. O objetivo fundamental deste dossiê é delinear algumas dessas redes, como aquelas que envolvem portugueses, goeses, moçambicanos, entre outros, no oceano Índico e na Ásia, ou a que se liga ao Panafricanismo e à Negritude nas
colônias africanas. Tomaremos a luta antirracista em Portugal como parte desse processo. A atuação das mulheres nas lutas anticoloniais também será valorizada na composição do dossiê, quer no período colonial, quer no período pós-independências. Várias vozes em língua portuguesa se colocaram contra o empreendimento colonial. Nesse imenso corpus, o presente dossiê pretende focalizar o século XX, fazendo algumas
referências ao XIX e XXI. O marco inicial no século XIX se explica pela mudança de paradigma que representa na relação entre metrópole e colônias. Nesse século, para além da crescente laicização dos aparatos coloniais de cooptação cultural, a instauração de uma
Monarquia Constitucional fez com que os portugueses passassem a se empenhar em fazer das suas já centenárias possessões partes constitutivas do império, atribuindo à maioria dessas localidades participação nas cortes portuguesas já na Constituição de 1822. Há, aí, portanto, uma mudança do estatuto político daquelas localidades, que passam a ser concebidas como “províncias ultramarinas”, isto é, eram entendidas como extensões do
território português em suposta equidade com as províncias continentais, de forma distinta ainda da maneira como António de Oliveira Salazar irá empregar essa mesma expressão no século XX, quando sequer a suposta equidade se mantém. Em meio a essas mudanças no estatuto do colonizado, muitos intelectuais portugueses irão participar do debate colonial, sobretudo provenientes do ou fortemente conectados, de diversas formas, aos espaços coloniais.
Entendemos que essa crítica ainda não foi sistematizada no campo da literatura, da cultura e somente em parte no campo da política, o que atribui originalidade ao recorte global proposto neste dossiê. Em termos mais amplos, o estudo dessas diversas vertentes da crítica anticolonial auxiliará a compreender os níveis e graus de comprometimento que os escritores e a intelectualidade de língua portuguesa procuraram e ainda procuram
estabelecer com aquilo que foi o espaço colonial.

 

DOSSIÊ: CONFRONTANDO A EUGENIA: NOVAS PERSPECTIVAS E abordagens (v. 43, n. 94; setembro-dezembro de 2023)
Organizadore/as: Pietra Diwan (Universidade Estadual de Maringá, Paraná); Marius Turda (Oxford Brookes University, Inglaterra)
Prazo final de submissão: 10 de abril de 2023.

Nos últimos anos, os estudos no campo da eugenia tomaram proporção e significância ao demonstrar que sua estrutura poliforme não poderia mais ser explicada por análises circunscritas ao âmbito do campo da história das ciências, e que para entender sua complexidade são necessários estudos que dialoguem com outras áreas do saber, e outros “atravessamentos” . Da mesma forma como seus idealizadores a conceberam entre o final do século XIX e primeiras décadas do século XX, a eugenia drenou suas premissas de diferentes disciplinas, não somente da biologia e mais
especificamente da genética - base científica que deu suporte a teoria da hereditariedade - mas também de saberes como a estatística, o direito, a psicologia, a educação e a religião, para citar algumas.

Composta como campo interdisciplinar, a eugenia transmutou-se de acordo com suas condições objetivas no tempo e no espaço. Projeto de fortalecimento do corpo de seu povo, no contexto dos estado-nação, apresentou-se como proposta positiva e negativa, simultaneamente. Restritiva, moralizadora e correcional. É neste sentido que a proposta do presente Dossiê se apresenta, com o objetivo de reunir contribuições que abordem o tema da eugenia no Brasil - mas não somente - em suas diferentes configurações, demonstrando as possibilidades de análises que propiciem
recuperar sua complexidade histórica e dar vazão à diferentes análises historiográficas. Nessa perspectiva, é de extrema importância valorizar as análises que desafiem e avancem o debate sobre a temática, observando as transformações que o próprio campo historiográfico apresenta no questionamento das fontes, e na proposição de interpretações que historicizem de acordo com os olhares de novas evidências, apresentadas pela mudança de valores e de transformações políticas e culturais contemporâneas.

Nesse sentido, a história da eugenia, vista como movimento eugênico transnacional, pode ser explicada a partir de experiências que se conectaram reciprocamente e se multiplicaram de acordo com as especificidades de cada país, estado ou cidade. Reconhecendo que mesmo no interior de associações e grupos de apoiadores haviam visões e correntes de pensamento divergentes, estas tinham como objetivo central o
fortalecimento de um grupo - ou vários - em detrimento de outro(s). Eficiência, simetria corporal, segregação, supremacia e branqueamento estiveram entre alguns de seus objetivos, alinhados com as premissas da modernidade ocidental.

A proposta deste dossiê é atualizar o debate sobre a pesquisa na área da eugenia de forma a consolidar esse campo de pesquisa autônomo, mas ao mesmo tempo interdisciplinar. As abordagens sobre a história da eugenia devem atravessar fronteiras da História para dialogar com outras disciplinas e diferentes fontes
primárias para dar vazão às múltiplas facetas que esse pensamento adotou e de que maneira suas práticas e premissas foram adotadas ainda que fora do que se concebeu equivocadamente como “eugenia clássica”, associada a eugenia implementada na Alemanha nazista.

A importância da publicação de um dossiê temático dedicado a este tema é de colocar em perspectiva a historiografia da eugenia até aqui e apontar para as possibilidades de diferentes abordagens, tendo em vista trabalhos mais recentes publicados no exterior, que buscam visões que contemplem a interseccionalidade (raça, etnia, gênero e, classe) e a visão transnacional como via de acesso às práticas e discursos de
eugenistas no Brasil.

 

DOSSIÊ: MATERIALIDADES EMERGENTES: RUMO A UMA HISTÓRIA CONECTADA DE OBJETOS NAS
FRONTEIRAS DA AMÉRICA COLONIAL (v. 44, n. 95, janeiro-abril de 2024)
Organizadores: Eduardo Neumann (UFRGS); Guillermo Wilde (CONICET-UNSAM)
Prazo final de submissão: 10 de julho de 2023.

 

A circulação de bens e matérias-primas no espaço colonial tem sido um tema clássico da história latino-americana. Numerosas obras desde a década de 70 estudaram a formação da economia colonial ultramarina e Atlântica desde a abertura e expansão dos mercados, a diversificação dos circuitos de produção e circulação e a crescente participação e especialização de agentes, desde funcionários, comerciantes, missionários e membros das elites indígenas locais. Minas, fazendas, oficinas, plantações, foram alguns dos espaços privilegiados de descrição e análise na literatura clássica da história económica (Assadourian 1983; Mörner 1992; Tandeter 1992; P. J. Bakewell 1976; P. Bakewell 1984; Garavaglia 1987; 1983; Harris, Larson, y Tandeter 1987; Mintz 1986; Hausberger 1997; Assadourian et al. 1973; Frank 1982; Nickel 1996).

Com o advento do século XXI, houve uma reorientação do interesse para duas dimensões pouco exploradas até então, a cultural e a global. Embora o interesse pela expansão do "sistema mundial" tenha sido uma preocupação dos estudos clássicos, um número significativo de novos estudos começou a colocar ênfase na produção de valores culturais e simbólicos associados à circulação em larga escala de bens, especialmente nos principais centros da administração colonial. Por sua vez, a renovação da história dos impérios desde a década de 90 deu um impulso decisivo ao estudo da circulação de vários tipos (pessoas, informação, textos) nas áreas das monarquias ibéricas no Atlântico e no Pacífico. (Biedermann, Gerritsen, y Riello 2018; Leibsohn 2011; 2012; Leibsohn y Mundy 2012; Leibsohn y Peterson 2012; Yun Casalilla 2019; Yun-Casalilla 2019; Yun Casalilla 2009; Alencastro 2000; Pérez García y De Sousa 2018; Bethencourt y Curto 2007; Gruzinski 2004; Valle, More, y O’Toole 2020; Hausser y Pietschmann 2014; Palomo 2016; Göttler y Mochizuki 2017; Findlen 2021) . Da mesma maneira, a renovação teórica da história, da arqueologia e da antropologia instalou decisivamente a chamada "viragem material", ou mais amplamente a questão dos objetos e das suas "ontotologias" desde o início da era moderna. (Bynum 2011; Ivanic, Laven, y Morall 2019; Brightman 2012; Houtman y Meyer 2012; Mittman 2018; Göttler y Mochizuki 2012), articulando-os para uma preocupação com as circulaçãos regionais, continentais e oceânicas (Myers 2001; Santos-Granero 2009; Stoller 2010; Appadurai 1991; Gell 2016).

Apesar do desenvolvimento deste campo de pesquisa, a dinâmica material das chamadas fronteiras dos domínios ibéricos tem permanecido pouco explorada até agora. A produção neste domínio tem sido dominantemente anglo-saxónica, apesar de no mundo lusófono-espanhol ter ocorrido alguns avanços (Geres 2014; Perrone e Scocchera 2019; Llamas Camacho e Calderón 2019; Quintero Toro 2009). Missões, reduções ou aldeias de índios, fortes, presidios, entre outras formações territoriais foram palco para a formação de "materialidades emergentes"; frequentemente caracterizadas pela transculturalidade e miscigenação (Levin Rojo e Radding Propuesta de Dossier para Revista Brasileira de História (RBH) 2019; Herzog 2015). Objetos de culto (estátuas, retábulos, altares, rosários, etc.) e de uso diário, plantas, armas, instrumentos musicais, e várias dimensões da materialidade do escrito (manuscritos, livros, mapas, cartas, recenseamentos, etc.), foram algumas das formas destas materialidades emergentes, que eram frequentemente utilizadas como instrumentos de reciprocidade, diplomacia ou símbolos de poder.


Este dossiê propõe abordar as materialidades emergentes nos espaços fronteiriços ibéricos de três situações diferentes: 1) a circulação, adaptação e transformação de significados e utilizações de objetos e técnicas europeus que atravessam os espaços fronteiriços (incorporando elementos locais, novas opções materiais, modificações plásticas, marcas de apropriação, transformações estilísticas); 2) a sobrevivência e circulação e transformação de objetos pré-existentes nas tradições pré-hispânicas reutilizadas nas zonas coloniais (entre as quais o "kippus" e o "quero" são dois exemplos paradigmáticos para a esfera peruana, ou os glifos para o mexicano); 3) a criação de novos objetos e materialidades típicas dos contextos de interação e transculturalidade.


De modo geral, esperamos com esse dossiê ampliar o diálogo e a divulgação das contribuições recentes nesse campo de pesquisa, especialmente aquelas realizadas fora do âmbito anglo-saxão, aproximando a produção realizada nas Universidades brasileiras e ibero ricanas.