NOTA DE REPÚDIO ÀS AÇÕES DE DESTRUIÇÃO DA AMAZÔNIA

O Grupo de Trabalho em História Ambiental da Anpuh-SP vem a público manifestar a sua enorme preocupação e indignação, com os acontecimentos recentes observados na Amazônia que resultaram em grandes queimadas da floresta, cuja fumaça atingiu, inclusive a cidade de São Paulo provocando o bloqueio da luz a ponto de acender a iluminação pública e chuva com fuligem.

Evidentes foram os discursos proferidos na campanha eleitoral para a Presidência da República no ano passado, os quais deixaram clara a despreocupação do candidato vencedor com as questões referentes ao meio ambiente e aos cuidados em preservar as conquistas institucionais, obtidas ao custo de muitas lutas e ao sacrifício de vidas humanas, ocorridas desde a década de 1980, com o fim da ditadura militar e a chegada da Nova República.

O estabelecimento de áreas de proteção ambiental, das reservas extrativistas, a demarcação das terras indígenas, a obtenção de recursos e fundos internacionais a serem investidos na proteção da floresta amazônica e na contenção do processo acelerado de desmatamento verificado na década de 1980, foram metas alcançadas de forma gradual e com a contribuição de sucessivos governos (tanto na instância federal como na estadual), a fim de que se pudesse estabelecer um arcabouço institucional voltado para a contenção do desmatamento e das queimadas. Tudo isso foi sendo construído até que surgissem os resultados reais, os quais, embora ainda deixassem margens a críticas, eram avanços que podiam ser mostrados como produto de decisões tomadas por parte dos poderes instituídos e da sociedade do Brasil, a fim de deter o avanço predatório sobre a floresta.

Sabe-se que a Amazônia é uma área de imensa biodiversidade, com recursos naturais provenientes de sua fauna e flora ainda não completamente conhecidos e analisados pela ciência, daí serem alvo do interesse de instituições nacionais e internacionais. Vários estudiosos têm defendido um aproveitamento racional desses recursos, com base em pesquisas e estudos, muitos dos quais realizados na região, o que demanda maiores investimentos em ciência e tecnologia e por suposto, em educação. Trata-se de algo do qual a nação e o mundo poderiam se beneficiar, por meio de uma economia com maior valor agregado e que propiciasse resultados para a própria Amazônia, gerando alternativas econômicas e emprego, reduzindo, inclusive, a pressão sobre a floresta.

Contudo, no presente momento, assistimos indignados aos cortes de verbas verificados exatamente nas instituições ou espaços institucionais, que poderiam nos proporcionar o conhecimento necessário à utilização racional da floresta amazônica, mantendo-a em pé. Se tal política equivocada ainda não bastasse, presenciamos também estímulos perpetrados pela autoridade maior da nação, de forma rudimentar, para que se produza a ocupação predatória, efetivada por meio de uma liberação geral para a destruição, por meio da pecuária extensiva (que tem por base a derrubada da floresta e as queimadas) e dos garimpos, que pouco propiciam em termos sociais e mesmo econômicos.

Esperamos que, por meio da atuação firme da sociedade, dos historiadores e suas entidades, das organizações que defendem a causa ambiental, dos estudantes e cientistas formados nas universidades, dos jovens e velhos preocupados com o futuro de nossa sociedade e de nosso planeta, possamos deter mais esta séria ameaça à floresta amazônica, seus povos e biodiversidade. A memória dos que se sacrificaram por essa causa ao longo da história merece uma postura firme e clara diante daqueles que pregam o sacrifício da natureza em prol dos interesses privados imediatistas e que nada contribuem para a melhoria das condições de vida de nosso povo e de nosso país.

GT de História Ambiental da Anpuh-SP
26 de agosto de 2019