Nota de falecimento do Prof. Dr. Geraldo de Beauclair Mendes de Oliveira

06 Out 2019 0 comment

A ANPUH-RIO lamenta profundamente informar o falecimento do Prof. Dr. Geraldo de Beauclair Mendes de Oliveira, ocorrido no último dia 5 de outubro de 2019, e convida a todos a ler o seu necrológio redigido pelo Prof. Dr. Cezar Honorato, do Instituto de História da UFF.

 

 

GERALDO DE BEAUCLAIR MENDES DE OLIVEIRA (1934/2019)

Faleceu ontem o Prof. Titular Geraldo de Beauclair Mendes de Oliveira, o Prof. Geraldo Beauclair. Formado em Filosofia (UEG), foi o primeiro Mestre formado pelo PPGH UFF e, posteriormente, Doutor em História Econômica (USP). Foi Professor da Faculdade de Economia e posteriormente, do Departamento de História e Programa de Pós-Graduação em História da UFF, do qual se tornou Professor Titular.
 
Seu primeiro livro, Introdução ao Estudo do Pensamento Econômico, publicado pela Editora Americana em 1974, se tornou um manual seguro para aqueles que queriam penetrar nos meandros da História do Pensamento Econômico feito por alguém com uma sólida formação em Filosofia, Economia e História e que, rapidamente, se transformou num manual para os alunos de História e Economia.
 
Sua Dissertação de Mestrado, A Evolução do Sistema Financeiro na Época Vargas, orientada pelo Prof. Stanley Hilton, foi a primeira a ser defendida no PPGH-UFF em 1974, e que se transformou em livro que, devido a pequena edição, virou raridade.
 
Nessa sua Dissertação, Geraldo inovou em muitos aspectos por escolher a época Vargas -  ainda um tabu na historiografia de então – pelas questões levantadas, pelas fontes e pela erudição ao buscar discutir a premissa de uma política varguista de transferência de capital para um projeto de  industrialização, com a análise de uma política de créditos, de uma reforma bancária e da própria administração cambial e de importações numa conjuntura internacional ainda refém da crise de 1929/grande depressão, e da própria 2ª Guerra Mundial.
 
O seu Doutorado em História Econômica na USP orientada pelo Prof. José Jobson Arruda em 1987 intitulada  A Pré-Indústria Fluminense (1808 – 1860) -  saiu publicada em 1992 pela Studio F&S Editora com o título de Raízes da Indústria no Brasil -  é uma obra clássica de História Econômica pois que rediscutia a própria noção de pré-indústria e sua aplicação ao caso brasileiro no período 1808/1860, analisando primeiramente, os vários casos onde o Estado foi organizador da Produção, com destaque para o Arsenal de Marinha.
 
Passo seguinte, ocupou-se dos vários ramos produtivos tentados ou implementados no Brasil até os anos 1850, como a cal, os sapatos, a seda, o papel, etc. Merece destaque também o seu pequeno, mas precioso, capítulo dedicado ao Barão de Mauá e seus empreendimentos produtivos como o do Estaleiro da Ponta d´Areia e o da companhia de iluminação a gás.
 
Seu último capítulo, apropriadamente denominada de “A Industrialização Adiada”, considerando as décadas de 1850 e 1860, discute a construção das ferrovias, a questão bancária até a Lei dos Entraves e, principalmente, levanta dúvidas acerca da afirmativa de que o fim do tráfico legal de escravos transferiria o capital para o setor produtivo.
 
O seu último livro “A Construção Inacabada (1822/1860”, publicado pela Vicio de Leitura em 2001, fruto de sua Tese de Professor Titular em História Moderna e Contemporânea da UFF, apresenta um trabalho maduro, fruto de suas reflexões em inúmeros artigos, orientações e do seu pós-doutoramento na Universitat Tuebigen (Alemanha).
 
Nesse livro, Geraldo busca algo ainda muito raro entre nós: a articulação entre os processos concretos de desenvolvimento de empreendimentos produtivos públicos ou privados e dos bancos, a atuação do Estado e de algumas instituições da Sociedade Civil, como a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN), e o pensamento econômico internacional (Smith, Lizt, Say etc) e, como tais reflexões chegam ao Brasil, especialmente no pensamento do Visconde de Cayru, José da Silva Lisboa.
 
Retomando grande parte de suas reflexões presentes nos livros anteriores, Geraldo ousou buscar avançar naquilo que se pode entender como “história total” na qual as relações econômicas, sociais, políticas e ideológicas se interpenetram num mesmo contexto histórico, especialmente quando se considera os primeiros anos do Brasil Independente até a estabilização do Império nos anos 1850/1860.
 
Aliás, não por outra razão o título do seu livro chama-se A Construção Inacabada, visto que tanto o processo de desenvolvimento de atividades produtivas (a pré-indústria), quanto as formas de atuação do Estado e da Sociedade Civil, não estavam claramente definidos ou implementados pelos pensadores e agentes públicos brasileiros, inacabados, portanto.
 
As tentativas de construção de um pensamento econômico “antenado” com o que era desenvolvido na Europa se chocavam com uma sociedade onde o latifúndio, a monocultura e escravidão eram dominantes. O debate entre liberalismo e protecionismo, então em voga entre os formuladores econômicos forâneos numa Europa que se tornava capitalista, encontrava seus limites na nossa sociedade de então. Não por coincidência – e esta é uma das marcas da originalidade das reflexões de Bauclair – gerou aquilo que ele aponta como um “pensamento econômico original”, tendo como destaque o Cayru.
 
O espaço que temos por ora para refletir acerca da importância do nosso homenageado é muito pequeno, frente a grandeza de sua atuação e de sua obra. Oxalá, os jovens discentes continuem a usufruir e respeitar os ensinamentos do Mestre-Historiador Geraldo de Beauclair Mendes de Oliveira, como nós, sempre alunos, orientandos, colegas e parceiros de trabalho, respeitamos. Honras ao nosso Mestre Geraldo!

 

Niterói, 06 de outubro de 2019.

Cezar Honorato (UFF)

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