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QUADRINHOS E POLÍTICA NA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA, POR IVAN LIMA - EP 49 - HISTORIADOR EXPLICA

Nesse episódio contamos com a participação da professor Ivan Lima Gomes da Universidade Federal de Goiás, para falar sobre quadrinhos e política na História Contemporânea.

Pesquisa recente junto a livrarias físicas e virtuais identificou mudanças no comportamento do público leitor brasileiro durante a pandemia de COVID-19. Ao lado do interesse cada vez maior em obras voltadas à análise crítica do cenário político atual, destaca-se o aumento na leitura de histórias em quadrinhos. Tais leituras aparentam ser, à primeira vista, bastante díspares entre si, sobretudo quando associamos, numa mirada rápida, quadrinhos a uma modalidade "menor" de leitura. No entanto, o maior interesse na leitura de quadrinhos num momento de crise como o atual indica não apenas a consolidação desta linguagem entre o público leitor brasileiro ou, ainda, o papel das artes para promover novos agenciamentos de sentido em contextos de instabilidade social. Ela pode suscitar, também, uma reflexão sobre as relações entre quadrinhos e história no mundo contemporâneo, desde o ponto de vista da política. Esta relação não é de todo nova, e passa por HQs narrando acontecimentos da política à presença de revistas em quadrinhos nos fronts de batalha durante a Segunda Guerra Mundial, entre outros exemplos. No contexto atual, indícios das relações entre quadrinhos e política são inúmeros, vide as recentes leituras de Batman feitas por Sergio Moro, os usos da saga Guerra Civil enquanto chave de interpretativa para as recentes crises políticas do Brasil, performances baseadas em super-heróis em manifestações, a perseguição à obra "Aparelho Sexual e Cia.", a censura ao beijo gay numa HQ da Marvel Comics durante a última Bienal do Livro no Rio de Janeiro, e a produção de narrativas gráficas visando atender nichos de público associados ao espectro político mais conservador, entre outros. Todos esses exemplos indicam que os quadrinhos podem ser uma via legítima para interpretar, à luz da História, temas como fake news, novas direitas, leituras e apropriações culturais e crise de representação política.