REVISTA NAVIGATOR

A Independência do Brasil em relação ao então Reino de Portugal – possivelmente o principal marco histórico do processo de constituição do Estado brasileiro – figura como momento particularmente rico no tocante às diferentes possibilidades de análises historiográficas que oferece aos pesquisadores dedicados às distintas áreas do campo do conhecimento histórico. Notadamente no que se refere à História Marítima, esse aspecto se apresenta ainda mais evidente, haja vista a necessária correlação entre a consolidação do decurso emancipatório brasileiro e a composição e emprego de um poder naval nacional como instrumento militar e político fundamental, tanto para a própria independência quanto para a manutenção da integridade territorial do país nesse processo.

Destarte, neste momento em que se encerra o ano de 2022, quando rememoramos as efemérides historicamente associadas dos bicentenários da Independência do Brasil e da criação da Esquadra brasileira, a Revista Navigator
, na condição de periódico científico que, desde o lançamento de seu primeiro número, em 1970, figura como destacada ferramenta de divulgação para estudos afetos à História Marítima, traz ao público este número especialmente oferecido a esse que podemos considerar como o ponto alto do processo de desenlace político entre Brasil e de Portugal.

Acolhendo análises de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, cujas reflexões se colocam sobre diferentes temáticas que perpassam os muitos aspectos desse quadro especialmente plural e tensionado, tendo como eixo principal o cenário dos embates travados entre os anos de 1822 e 1825 e as diferentes questões a ele relacionadas, este número 36 da Revista Navigator – Subsídios para a História Marítima do Brasil reúne uma seleção de oito contribuições distribuídas em três seções.

Na primeira seção, dedicada ao último de uma sequência de três dossiês oferecidos ao tema do processo emancipatório brasileiro, estão reunidos os cinco artigos que compõem o dossiê temático intitulado “A criação da Esquadra e as lutas pela consolidação da Independência do Brasil”, organizado pelos professores Dr. Sergio Willian de Castro Oliveira Filho (EAMCE) e Dr. Robert Wagner Porto da Silva Castro (DPHDM). Ao abordar questões que vão desde a construção naval no Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves até aspectos atinentes à atuação da Armada Real portuguesa e à conformação e emprego do poder naval brasileiro por ocasião das lutas pela Independência nas diferentes regiões do litoral do Brasil, consagrados pesquisadores apresentam importantes reflexões que, seguramente, vêm incrementar o debate historiográfico atual.

Na sequência, na seção de Artigos em fluxo contínuo, dois interessantes estudos centram suas análises sobre objetos que, em diferentes medidas, se relacionam ao contexto histórico sobre o qual se estabelece a temática do Dossiê. No primeiro artigo, intitulado “É preciso Marinha, e nós não a temos: uma subscrição para ampliação da Força Marítima pela ação popular (1822-1827)”, o Capitão-Tenente (AFN) Vagner da Rosa Rigola, historiador e pesquisador da Divisão de Pesquisas Históricas da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM), se debruça sobre aspectos e desdobramentos do recurso das subscrições públicas, empregado pelo governo brasileiro diante da necessidade premente em constituir uma Esquadra nacional capaz de assegurar a independência do país frente às forças lusitanas, imediatamente após a ruptura com Portugal.

Em uma perspectiva mais ampla, mas ainda necessariamente relacionada à consolidação do Estado brasileiro e, portanto, à conformação de seu poder naval como fator fundamental para a manutenção de sua integridade territorial e, consequentemente, para o desenvolvimento das diferentes atividades relacionadas ao mar e vias navegáveis, está o segundo texto dessa seção. De autoria dos historiadores Dr. Edgar Ávila Gandra e Me. Thiago Cedrez da Silva, ambos vinculados ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o artigo “Navegando pelos portos no Brasil: uma análise inicial sobre os caminhos históricos da consolidação dos portos no Brasil” apresenta reflexões sobre aspectos atinentes ao estabelecimento e organização dos portos brasileiros em uma perspectiva que privilegia a observação das relações entre esses lócus e os ambientes urbanos a eles afetos, enquanto espaços de intensas trocas sociais e comerciais, basilares para a própria estruturação do Brasil enquanto Estado independente.

Fechando este número da Navigator, os graduandos em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estagiários da DPHDM Felipe Sabino Crispim Maia e Júlio César de Almeida Paiva Fernandes assinam a contribuição à seção Documento com a apresentação do Livro Mestre dos Oficiais da Armada Nacional e Imperial onde foram registradas informações relativas à carreira naval do Almirante Luís da Cunha Moreira, Visconde de Cabo Frio, primeiro brasileiro nato nomeado Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Marinha do Brasil independente, ainda no posto de Capitão de Mar e Guerra, em outubro de 1822, no contexto de ruptura política entre Brasil e Portugal. Documento que integra o valioso acervo sob a guarda do Arquivo da Marinha do Brasil, localizado na cidade do Rio de Janeiro e subordinado à Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha.

Por fim, cabe ainda ressaltar que, neste instante que se reveste de significativo simbolismo para o país e, de modo especial, para a Marinha do Brasil, o estudo histórico na instituição naval também se engalana na medida em que se celebram também os 85 anos da antiga Divisão de História Marítima do Estado-Maior da Armada. Criada por meio do Decreto-Lei nº 101, de 23 de dezembro de 1937, foi o setor responsável pela publicação dos Subsídios para a História Marítima do Brasil, periódico que precedeu a Revista Navigatore cujos primeiros volumes foram publicados no ano de 1938.

Nesse sentimento e na esperança de que as relevantes contribuições selecionadas para este histórico número da Revista Navigator proporcionem profícuas reflexões e suscitem novos estudos dedicados à História Marítima.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Dr. Robert Wagner Porto da Silva Castro,

Me. Pierre Paulo da Cunha Castro,

Me. Carlos André Lopes da Silva

OS EDITORES

Informações adicionais

  • Edição: v. 18, n.36 (2022)
  • Instituição: Marinha do Brasil
  • Dossiê: A criação da Esquadra e as lutas pela consolidação da Independência do Brasil