Com satisfação apresentamos ao público o número 54 da Revista de Economia Política e História Econômica (REPHE), que reúne um conjunto expressivo de artigos dedicados a problemáticas centrais da história econômica, da economia política e das interfaces epistemológicas entre economia, história e ciências sociais. Este número, em seu pluralismo temático e metodológico, reafirma a vocação da revista como espaço de reflexão crítica, rigor acadêmico e diálogo interdisciplinar.
A seleção de artigos inicia-se com Apoena Canuto Cosenza, que analisa o percurso da Rússia pós-soviética em Do Desmonte à Reconstrução, destacando as profundas transformações econômicas e institucionais entre 1992 e 2016. Em seguida, Henrique de Azevedo Pereira e Rafael Galvão de Almeida revisitam a Peste Negra na Europa Ocidental, examinando-a sob a lente do modelo de armadilha malthusiana de Gregory Clark, em diálogo com a historiografia econômica sobre crises demográficas e desenvolvimento.
No campo da epistemologia econômica, Dreyfuss Raphael Stege e Alain Pierre Claude Henri Herscovici confrontam Historicismo e Universalismo, problematizando os fundamentos teóricos da disciplina. Já Anne Evelin de Oliveira Silva e Leonardo Gomes de Deus trazem à cena uma leitura foucaultiana das relações econômicas internacionais, articulando modernidade estatal, civilização e colonialismo em chave crítica.
A industrialização e a organização do trabalho surgem em perspectiva histórica no artigo de Ivan Ducatti e Terezinha Martins dos Santos Souza, que analisam o papel do IDORT na racionalização produtiva brasileira. A dimensão nacional aparece também no texto de Artur Pereira Porto, que discute o mercado interno como elemento estruturante da formação nacional, tensionando debates historiográficos clássicos e recentes.
A reflexão crítica sobre a globalização é retomada por Guilherme Soares Ferreira, que revisita as leituras de Maria da Conceição Tavares a partir do choque de juros de 1979, situando o debate sobre hegemonia e reestruturação internacional. Complementarmente, Perla Daniele Costa Carreiro e Luiz Eduardo Simões de Souza analisam a indústria têxtil em São Paulo e Maranhão entre 1870 e 1930, discutindo desigualdades regionais, capital e trabalho.
No campo das relações trabalhistas, Erik Chiconelli Gomes oferece uma leitura crítica sobre as decisões do Conselho Nacional do Trabalho entre 1927 e 1930, contribuindo para o entendimento das tensões entre Estado, capital e trabalhadores no Brasil da Primeira República. O número encerra-se com a resenha de Liana dos Santos Gonçalves de Souza sobre a Correspondência Intelectual de Celso Furtado, organizada por Rosa Freire d’Aguiar, obra fundamental para compreender os diálogos e trajetórias intelectuais de um dos maiores pensadores do desenvolvimento econômico no Brasil.
Ao reunir pesquisas que atravessam diferentes temporalidades, geografias e perspectivas analíticas, este volume reafirma a importância da história econômica e da economia política como campos abertos à crítica, ao diálogo interdisciplinar e à renovação interpretativa. Desejamos a todos uma leitura atenta e profícua.
