NOTA DE PROFESSORES DA UFF

Rio de Janeiro, 22 de Julho de 2014


Nós, abaixo assinados, professores da Área de História da Universidade Federal Fluminense/UFF, viemos manifestar, através desta nota, inquietação e protesto face ao que entendemos ser uma escalada repressiva perigosa, injustificada e ameaçadora.

Os episódios recentes, de mandados de prisão preventiva contra um grupo de pessoas, incluindo-se aí professores e estudantes universitários, acusados de estarem preparando ação futura, não são isolados. Desde junho do ano passado, vêm-se multiplicando atos de truculência sem par, exercidos por polícias de diversos estados, com anuência e participação do governo federal, com a mobilização da Polícia Federal e das próprias Forças Armadas, chamadas para exercer funções policiais em comunidades populares e na suposta defesa da Copa do Mundo, organizada por uma corporação de negócios, a FIFA, conhecida pelos escândalos internacionais em que se envolve.

A alegação das autoridades, inconsistente, é a de que se trata de reprimir atos e organizações, cuja ação violenta não pode ser tolerada. Entretanto, não foge à visa do pior cego que há um desequilíbrio gritante entre a ação repressiva do Estado, em seus vários níveis, e as supostas ameaças de que ele se diz defender.

Espancamentos constantes de manifestantes na rua, feridos por cassetetes, balas de borracha, bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e de pimenta, prisões arbitrárias, invasões de comunidades populares com assassinatos de adultos – homens, mulheres, idosos - e crianças (como o assassinato recente de um bebê, no colo do próprio pai, ocorrido na Bahia), índices de violência policial que não encontram paralelo em nenhum lugar do mundo democrático, tudo isto vem num crescendo.

Não podemos aceitar multipliquem-se as violências contra as pessoas e o desrespeito ao estado de direito, porque este processo – pois disso se trata, de um processo – ameaça a democracia brasileira, que precisa ser ampliada e aprofundada, e não encolhida pelo medo ou distorcida e enfraquecida pela indiferença, a omissão e o silêncio.

Manifestamos nossa inquietação e formulamos nosso protesto, como cidadãos, intelectuais, pesquisadores e professores. E apelamos à sociedade e à cidadania, a que não silenciem, não se amedrontem, nem deixem naturalizar-se esta sanha repressiva que ameaça os fundamentos do estado de direito democrático que tanto custou à sociedade brasileira construir e que devemos ser, agora e sempre, capazes de defender.

Adriene Baron Tacla
Alexandre Santos de Moraes
Alexandre Vieira Ribeiro
Alexsander Lemos de Almeida Gebara
Ana Maria Mauad De Sousa Andrade Essus
Carlos Augusto Addor
Cecília da Silva Azevedo
Cezar Teixeira Honorato
Daniel Aarão Reis Filho
Edmar Checon de Freitas
Gizlene Neder
Juniele Rabelo De Almeida
Karla Carloni
Larissa Moreira Viana
Luis Felipe da Silva Neves
Luiz Carlos Soares
Luiz Fernando Saraiva
Marcelo Badaró Mattos
Marcelo Bittencourt Ivair Pinto
Márcia Maria Menendes Motta
Marcos Alvito Pereira de Souza
María Verónica Secreto de Ferreras
Mário Jorge da Motta Bastos
Manuel Rolph Viveiros Cabeceiras
Norberto Osvaldo Ferreras
Renata Rodrigues Vereza
Renata Torres Schittino
Samantha Viz Quadrat
Sônia Regina Rebel de Araújo
Tatiana Silva Poggi de Figueiredo
Théo Lobarinhas Piñeiro