A HISTORIA SE FOI COM O FOGO

A HISTORIA SE FOI COM O FOGO

*Grazielle Rodrigues.

Historiadora e Investigadora do CEIS20/ Universidade de Coimbra.

 

Fogo. Fogo. Fogo!! Foi assim que a noite do dia 08 de junho de 2013 se encerrou em Fernando de Noronha. Particularmente, foi assim que a historia se foi com o fogo. O que poucos, mas muitos poucos sabem é que a ilha de Fernando de Noronha já fora um dos palcos para a Guerra Fria. Essa participação nos anais da historia da humanidade era configurada na medida em que os Estados Unidos da América percebia a importância geoestratégica do arquipélago no Atlântico, especificamente, para o Atlântico Sul. Há variados relatórios e documentos acerca desse evento histórico nos arquivos de Washington DC. É-me custoso ver o desconhecimento dessa historia dentro da própria ilha, ao se reportar a aquele espaço como lugar de moradia. É muito mais que isso. Faz parte da historia da humanidade. Fernando de Noronha era um dos pouquíssimos lugares do mundo a possuir um exemplar deste tempo pretérito. Um dos poucos lugares do mundo que guardava parte da historia americana em território não americano. E mais, um dos poucos lugares que fez parte do inicio do programa espacial norte americano, ao servir como o 11º POSTO DE OBSERVAÇÃO DOS TELEGUIADOS nos finais da década de 1950. Os ‘iglus’, construídos para formar a área destinada a esses estrangeiros, traziam uma nova concepção de organização militar. Formou-se uma base planejada e livre dos olhares dos militares brasileiros, com “instalações moderníssimas e luxuosas”, na visão de um repórter da época, João Silveira. A Ilha de Fernando de Noronha e a estação de teleguiados representavam um dos momentos mais importantes da relação entre o Brasil e os Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial, no sentido de Segurança Internacional e Soberania. Não há, no Brasil, nenhuma outra estrutura que simbolize tão bem a Guerra Fria como Fernando de Noronha. Estou desolada. Pesquiso essa historia a mais de 10 anos e sempre que posso palestro no auditório do TAMAR acerca desse “tempo dos americanos”. A minha investigação gerou um dos poucos livros sobre o tema dessa presença estrangeiras no território insular de Fernando de Noronha e a minha tese já me causa mudanças após o ocorrido do dia 08. Parte do patrimônio histórico e cultural esta apagando, na medida que o fogo consome as paredes levantadas de alumínio.