NOTA DE PESAR

O GT Nacional Gênero da ANPUH-Brasil, vem a público manifestar seu profundo pesar pelo falecimento, no dia de hoje, de María Lugones (1944-2020), uma importante e imprescindível intelectual feminista que abriu caminho para o pensamento e a crítica da colonialidade do gênero na América Latina. É um dia triste para todes nós que nos acostumamos a tê-la como referência, inspiração e um abraço forte na luta contra a opressão e todas as formas de violência gendrada.
Ela construiu um legado para o mundo, nos deixando instrumentos analíticos para enxergar o sentido da racionalidade burguesa, colonizadora e colonial. Entre as tantas contribuições intelectuais que irão marcar sua permanência entre nós pelos anos vindouros, não esqueceremos a delicadeza do seu olhar ou o seu sorriso complacente ante a miséria e a ignorância que ela precisou combater e o fez com a firmeza, a flexibilidade e o equilíbrio das árvores antigas. Para ela, escrever teoria era criar pontes. De mãos dadas com ela, fomos capazes de perceber as limitações da colonialidade do poder ao não reconhecer o significado do papel subserviente das mulheres na manutenção das relações de poder, uma contradição inerente da razão binária que marca o pensamento masculino hegemônico. Lugones, ao afirmar que a colonização é um processo constante de colonizar, denuncia a permanência da lógica categorial ainda presente nos projetos de descolonização das Ciências Sociais, fundamental para a reprodução do eurocentrismo na base do capitalismo colonial moderno.
Lugones nos legou a chave da justaposição das categorias sociais como modelo de repensar, em novas bases, a partir da meta-teoria-feminista a realidade dos povos do Sul, “Rumo ao feminismo descolonial” e à vida digna para todes. Precisamos conhecer mais profundamente os saberes produzidos por María Lugones e garantir que suas raízes se espalhem larga e amplamente para que a sua presença seja a nossa força.
Brasil, 14 de julho de 2020