RELATO SINTÉTICO DA JORNADA DE DEBATES SOBRE O ENSINO DE HISTÓRIA E O LUGAR DO HISTORIADOR, S. PAULO, 13/05/2015.

No último dia 13 de maio realizamos no Anfiteatro do Depto de História da USP a Jornada da ANPUH: o lugar da História no ensino escolar.

O evento tinha como objetivo promover uma reflexão ampliada sobre o lugar da História na sociedade brasileira, em especial, na educação escolar.

Foram duas mesas de debates. Na primeira mesa as discussões se deram em torno da indagação "Por que História Hoje?". O professor Elias Tomé Saliba discorreu sobre o tema refletindo sobre os impactos da cultura digital e a globalização neoliberal sobre a história acadêmica, escolar e massiva. A professora Marieta Ferreira desenvolveu sua fala a partir da reflexão acerca do paradoxo entre o aumento do interesse sobre História e diminuição de seu papel no currículo escolar. Lembrou as mudanças no mercado e nas tecnologias editoriais que se por um lado abrem novos campo de trabalho para o historiador, retiram do professor o lugar de produção colocando-o como consumidor de recursos estruturados. O professor Valdei Lopes Araújo criticou a simplificação do currículo e os vínculos com as políticas internacionais de avaliação. Questionou a educação à serviço do mercado e o processo de formação histórica da população, ocupado por um avanço da mídia sobre a História Pública e um enfraquecimento da historiografia. Discutiu também a expansão da pós no Brasil, o modelo de avaliação e o papel da CAPES. Por fim chamou a atenção para a construção de uma agenda de discussão na ANPUH sobre a circulação entre ensino e pesquisa e a valorização da comunicação e do impacto social da pesquisa histórica, propondo nestes termos a refundação da carreira de pesquisador uma interferência no modelo de avaliação.

Na mesa da tarde tivemos a discussão sobre "Que História ensinar e como? A prof.ª Circe Bittencourt lembrou que as perguntas que eram tema da mesa precisavam enfrentar antes a indagação do "Por que ensinar História". Nesse sentido enfatizou o papel da disciplina na formação política dos alunos, portanto uma formação disputada por diferentes projetos de sociedade. Apontou ainda a necessidade de pensarmos como organizar um currículo para o conjunto da população destacando a diversidade e visando a formação de um cidadão político ativo na democracia. Rosa Godoy iniciou sua fala denunciando a deshistorização e perda da percepção da temporalidade que marca nossa sociedade. Detendo-se na análise do PL 6840/13 e nos documentos do MEC sobre os Direitos de Aprendizagem e BCN, criticou os descompassos da elaboração e dos conteúdos. Em sua visão o excesso de documentos decorre do jogo de poder em função dos projetos de democracia e das tensões da relação entre o público e o privado. A prof.ª Helenice Rocha apontou que os novos documentos trazem divergências mas indicam novos parâmetros e diretrizes para a organização do sistema nacional de educação. Destacou em sua análise o documento do Pacto pelo Fortalecimento do Ensino Médio apontando avanços e limites nas proposições acerca da integração, interdisciplinaridade e contextualização. Nessa direção defendeu que devemos nos tornar interlocutores desse debate mais amplo, o que não se faz defendendo a História por si só. O prof. Mauro Coelho discutiu o tema na perspectiva do direito à educação. Nesse sentido apontou a necessidade de reformulações do EM e busca de alternativas para enfrentar os desafios contemporâneos da escola. Em sua fala defendeu o ensino disciplinar de História como integrante de um currículo de formação humanística e integral; a interdisciplinaridade e a contextualização como novas balizas; a inserção da pesquisa como forma de operar conceitos e ler o mundo; e a História do Brasil como eixo estruturante do currículo.

Ao final, tivemos uma plenária para debate de propostas e encaminhamentos para visando garantir desdobramentos ao debate e a tomada de posição da entidade. Foram apresentadas e validadas as seguintes proposições e encaminhamentos:

1. Constituição de um grupo de trabalho formado pelos participantes das mesas para redação de um documento síntese do evento que possa traduzir os pontos de consenso sobre os temas discutidos e que sirva para a construção de uma tomada de posição da entidade acerca das reformas em curso, distinguindo em cada documento seus avanços e limites. Em consequência disso visamos buscar assento no debate público com os agentes oficiais e órgãos que elaboram as reformulações: MEC, CNE, Congresso Nacional.

2. Necessidade de articulação com outras entidades ligadas ao ensino e educação, movimentos sociais, e docentes da Educação Básica para tomada de posições conjuntas frente às reformulações em curso.

3. Constituir um Fórum de Educação Básica, ligado ao GT, que deve ser integrado inicialmente ao Fórum de Graduação, cujo encontro já está agendado para o Simpósio Nacional em Florianópolis.

4. Aprofundar os debates sobre a Formação do Professor de História, tendo em vista a minuta das novas Diretrizes para os cursos de Licenciatura em processo de discussão no CNE, enfrentando as questões curriculares dos cursos de História.

5. Criar canais que ampliem a troca de experiências entre os GT regionais de ensino de História e Educação.

Texto redigido por Paulo Eduardo de Mello, do GT Ensino de História