NOTA DE FALECIMENTO

DENIS BERNARDES, CIDADÃO E HUMANISTA

A notícia recebida dizia do falecimento, em 1º de setembro, aos 64 anos, acometido de grave enfermidade, do professor Denis Antônio de Mendonça Bernardes, do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.  O corpo estava sendo veladono auditório João Alfredo, na Reitoria da UFPE, onde receberia as homenagens póstumas e honras acadêmicas do corpo docente e dos discentes. Estavam presentes representantes de organizações sociais popularesde Recife e Olinda, todavia, o sepultamento ocorreria em Maceió, sua cidade natal, em meio a seus amigos e familiares.

Presentemente, a tristeza antecipou as lágrimas tanto para mim quanto para Alba Correia. A emoção não me permitiu falar de Brasília ao telefone com o Dr. Diógenes Bernardes, seu tão querido irmão, para manifestar meus sentimentos à família enlutada.

Sinceramente, guardava em mim, a esperança de reencontrá-lo pessoalmente ainda nesse ano, como já o fizera em maio e julho em casa de Naia Freitas, uma querida amiga comum. Lá, conversamos longamente sobre sua atividade atual na editoria da Revista Estudos Universitários da UFPE e seus projetos de consultoria junto ao CNPQ. Em tudo isso, expressava tranqüilidadeinvejável e as expectativas positivas na concretização de seus projetos, mesmo em face de seu delicado estado de saúde. Em seguida, retomou a ênfase na temática das lutas políticas de Frei Caneca e Gervásio Pires na Revolução Pernambucana de 1817 e na Confederação do Equador de 1824 que deveria ser rigorosamente estudada. Atento à minha formação jurídica, discorreu sobre a história dos direitos humanos e sociais, lembrando ser titular da disciplina acadêmicaproteção social nas constituições brasileiras, aliás, criada e ministrada por ele no Departamento de Serviço Social da UFPE.

Lembro ainda o encontro de maio, quando partilhamos a idéia de que o ser mais ameaçado da natureza é o ser humano pobre, condenado pelo nosso sistema social mundializado que exclui quase 2/3 da população mundial. Discutimos a afirmação de Leonardo Boff - "a lei suprema do universo é a da cooperação de todos com todos e a da solidariedade cósmica, porque tudo tem a ver com tudo." Foram tardes agradáveis e iluminadas essas que passamos juntos.

A Reitoria da UFPE, ao publicar Nota, enfatizou que "Denis Bernardes dedicou toda a sua vida acadêmica à UFPE, onde iniciou a sua formação de historiador e era professor desde 1975. Lecionou e pesquisou no Departamento de Economia e, posteriormente, no Departamento de Serviço Social. Fez o mestrado na Sorbonne-França e o doutorado em História Social na Universidade de São Paulo. Em suas mais recentes pesquisas, vinha se dedicando à relação entre memória, informação e sociedade. O professor era o atual editor da Revista Estudos Universitário da UFPE."

Leio em manchete de jornal eletrônico: o deputado Luciano Siqueira (PCdoB) ocupou a tribuna da Assembléia Legislativa de Pernambuco para registrar seu pesar pelo falecimento do professor, pesquisador e historiador Denis Bernardes, da Universidade Federal de Pernambuco.

 

Lembrei-me de Luciano jovem em Recife num encontro regional de cultura popular patrocinado pelo MEC, na década de 60. Ele trabalhando como voluntário no MCP - Movimento de Cultura Popular e eu também voluntário do MEB - Movimento de Educação de Base da Arquidiocese de Maceió, já envelhecido na foto publicada na imprensa, e, agora, se manifestando da tribuna do legislativo, afirmando: "era um partícipe ativo da luta democrática e também da construção de um pensamento avançado sobre a Região e sobre o país, no âmbito da UFPE.

"É, portanto, uma perda muito grande para o pensamento acadêmico, para a interpretação da nossa vida, da nossa gente, da nossa realidade, o falecimento do professor Denis Bernardes. E eu perdi um grande amigo", lamentou encaminhando requerimento à Mesa Diretora da Assembléia Legislativa no sentido de que aquela Casa de Leismanifeste voto de pesar oficial pelo falecimento do professor.

 

Aliás, amizade construída desde os tempos das lutas de política estudantil na União dos Estudantes Secundaristas de Alagoas-UESA, de passagem pela Juventude Estudantil Católica - JEC, juntamente com Gildo Marçal, José Bernardes Neto, Jailton Balbino, Nádia Fernandes, Tânia Vasconcelos, Luciano Laurindo Cerqueira, Naia Freitas, André Pereira leite, e outros tantos.

Denis, secundarista, cujo brilho de inteligência e o comprometimento com a luta dos mais pobres veio se manifestar no amadurecimento em sua vida profissional na academia, pela sua trajetória exemplar reconhecida nos depoimentos de inúmeros professores, alunos, ex-alunos e funcionários da universidade e outros atores sociais.

 

Ao ler essa NOTA, permito-me dizer, senti-me profundamente feliz, pelo reconhecimento publico alcançado por ele. "Recife, 03 de setembro de 2012. O Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano - MDU/UFPE expressa sua admiração e respeito pelo trabalho do grande mestre Denis Bernardes. Sua participação sempre constante nas orientações e bancas examinadoras marcou com enorme competência a formação de mestrandos e doutorandos, engrandecendo assim as pesquisas em curso no programa. Exímio pesquisador relatava os fatos com a força de um espírito inquieto e apaixonado pela busca do conhecimento revelando extrema sensibilidade que transbordava de sua alma de entusiasta da causa histórica e urbanística. A emoção presente em suas palavras ficou e ficará por muito tempo nas salas de aula como exemplo de dedicação, estímulo e bravura. Fica desse sentimento a frase de Mário Quintana: "O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...". A Coordenação. Maria Ângela de Almeida Souza Coordenadora do PPGMDU Ana Rita Sá Carneiro Vice-Coordenadora do PPGMDU" (1)

Em 5 de setembro de 2012, leio no Blog do Professor Marco Mondaini: "Da minha geração nordestina dos anos 1960, Dênis Bernardes era seguramente o mais talentoso (Gildo Marçal Brandão). Escritas no ano de 2006 pelo cientista político e professor da Universidade de São Paulo, Gildo Marçal Brandão, as palavras da epígrafe acima explicitam o reconhecimento da grandeza intelectual do grande mestre que acaba de nos deixar, quando da publicação daquele que seguramente é o seu livro mais brilhante: O patriotismo constitucional: Pernambuco, 1820-1822.

Alagoano como Dênis, a morte do amigo Gildo, em 15 de outubro de 2010, aos 61 anos, causou-lhe uma profunda dor, uma dor proporcional àquela que todos nós - alunos, professores e técnicos - da Universidade Federal de Pernambuco, que tivemos a oportunidade de conhecê-lo mais de perto, sentimos em ocasião do seu falecimento neste 1º de setembro, aos 64 anos.

Historiador de uma erudição ímpar, Dênis foi um intelectual que, como poucos, soube fundir inteligência e generosidade. Todos os relatos feitos durante a sua despedida, no auditório João Alfredo, na Reitoria da UFPE, nesta triste manhã de domingo, procuravam reconhecer tal fusão. Porém, de todos os emocionados testemunhos, é impossível não destacar aquele feito pela filha da trabalhadora doméstica que, incentivada por Dênis, em meio à sua biblioteca olindense, chegou, anos depois, à universidade, tornando-se graduada e pós-graduada. "(...) (2)

Para mim, repito, bastaria ler essa parte da Nota do ilustre prof. Marco Mondaini, para me sentir profundamente feliz em ser um amigo e admirador de Denis por tanto tempo.

Por fim uma recordação. Ele me cobrava, de quando em vez, até por telefonema de Natal, e Gildo Marçal também, lembrando o início da caminhada em nosso tempo de Ação Católica dos anos 60, a declamação do texto de Nietzsche, na tradução poética de L. Boff (2000):

"Antes de prosseguir em meu caminho e lançar

O meu olhar para frente uma vez mais,

elevo, só, minhas mãos a Ti na direção de quem eu fujo.

À Ti, das profundezas de meu coração, tenho

Dedicado altares festivos para que, em cada momento,

Tua voz me pudesse chamar

Sobre esses altares estão gravadas em fogo estas palavras:

" Ao Deus desconhecido".

Seu, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos sacrílegos.

Seu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo

Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servi-Lo

Eu quero Te conhecer, desconhecido.

Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão,

Invades a minha vida

Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero

Te conhecer, quero servir só a Ti. Nietzsche. (3)

FONTES:(1)http://www.facebook.com/CressPE.Oficial. (2)In. Dênis Bernardes (1948-2012), de Marco Mondaini & Fernando da Mota Lima- Setembro 2012. (3)In. Tempo de Transcendência, de Leonardo Boff. 2012.http://www.acessa.com/gramsci/.