O COMÉRCIO DA MENTIRA E OS ATAQUES À HISTÓRIA PROFISSIONAL

Há cerca de um ano, foi aprovada pelo Congresso Nacional a regulamentação da profissão de historiador. A lei reconhece que pesquisar, escrever, ensinar e divulgar história exigem a experiência de um profissional com formação de nível superior. A graduação em história passa pela aquisição de um vasto repertório de conhecimentos, desde os mais evidentes, como o estudo das diversas histórias e culturas, até saberes mais especializados que dizem respeito a métodos e teorias específicas que tornam a historiografia um ramo das ciências humanas.

Hoje, o Brasil tem uma comunidade historiadora reconhecida entre as maiores e mais importantes do mundo. A Associação Nacional de História - Anpuh-Brasil, com mais de 6 mil associados e com 60 anos de existência, esteve sempre ao lado da sociedade brasileira na luta por histórias mais qualificadas e complexas. As histórias que interessam às sociedades democráticas são aquelas que ajudam a fortalecer seus valores fundamentais: o respeito à diversidade e às minorias, a garantia da liberdade de pensamento, a pluralidade e autonomia científica, o combate ao obscurantismo e às tendências autoritárias, a solidariedade e a justiça social, dentre outros.

Nos últimos anos, temos visto repetidos ataques à história científica e a seus profissionais. Indivíduos e grupos procuram destruir a confiança na ciência em geral, e na história em particular, com o objetivo de alcançar interesses comerciais, ideológicos e partidários. Para vender livros, enriquecer com propagandas em plataformas digitais ou promover projetos político-partidários de minorias radicais e antidemocráticas, estabeleceu-se uma espécie de vale-tudo alavancado pela desinformação. Foi o que vimos na última semana na tentativa de intimidação movida contra o professor Carlos Zacarias Figueirôa de Sena Júnior, da UFBA.

O ódio à democracia e à pluralidade de histórias é capturado por uma máquina comercial que reproduz ressentimentos e ignorância. O fato de terem escolhido o professor e a professora de história como seus inimigos mostra apenas que a escola e a ciência autônoma são ainda as grandes guardiãs da democracia. Não temos outro caminho para resguardar o conhecimento que emancipa senão aquele que garante a plena liberdade a seus praticantes.

Ao lado de todos os profissionais de história no Brasil, a Anpuh-Brasil reafirma seu compromisso com a defesa de um conhecimento histórico produzido por uma ciência socialmente referenciada. Aos vendedores de mentiras que prometem um acesso mágico e fácil à "verdade da história", a resposta só pode ser o reforço de nosso compromisso profissional com um saber plural, complexo, mediado pelo diálogo eticamente orientado.

Por fim, a atual diretoria da Anpuh-Brasil, desde sua posse em fins de julho, trabalha em diversas frentes na construção de medidas concretas na defesa da história profissional, de seus trabalhadores e da democracia brasileira. Para citar apenas algumas:

  1. firmamos parceria com o recém-lançado Observatório do Negacionismo;
  2. estabelecemos conversas institucionais com a International Network of Concerned Historians;
  3. estabelecemos grupo de trabalho para propor a criação de um certificado de boas práticas profissionais;
  4. iniciamos conversas visando à criação de uma frente parlamentar pluripartidária antinegacionista;
  5. iniciamos um amplo projeto de reestruturação das redes sociais da Anpuh-Brasil com o objetivo de reforçar seu alcance em ações de divulgação científica e história pública;

Estas e muitas outras ações só terão eficácia com o engajamento ativo da comunidade historiadora em seus diversos espaços institucionais. Precisamos estar unidos na defesa, em especial, da história ensinada na educação básica. Nossas professoras e nossos professores estão na linha de frente da luta contra os obscurantistas. Apesar dos ataques, são eles que, há anos, desenvolvem respostas e projetos, que precisam ser conhecidos e divulgados, para uma história plural e democrática. Fortalecer a ANPUH-Brasil, associando-se e participando ativamente de suas ações, é a melhor resposta que podemos dar neste momento.

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