LER HISTÓRIA

A qualidade de uma revista académica, o seu impacto ou influência e a sua reputação dependem naturalmente de vários factores e podem ser avaliados por múltiplos critérios. Em última análise, essa avaliação é um exercício subjectivo, depende de cada um. No entanto, desde há muito tempo – e, em especial, nos últimos anos, acompanhando os progressos da bibliometria e de toda a metrificação da produção académica – que se vêm desenvolvendo iniciativas no sentido de criar indicadores objectivos que possam traduzir a qualidade das revistas e o seu impacto e que, ao serem comuns, permitam a sua classificação, comparação e hierarquização. Assim, a aferição da qualidade das revistas depende hoje, desde logo, da sua inclusão em grandes bases de dados e sistemas de indexação de âmbito mundial ou regional (v.g. Scopus, Web of Science, Scielo, Ebsco), visto que essa inclusão é ela própria selectiva, exigindo o cumprimento de um conjunto alargado de requisitos. E depende, depois, de indicadores métricos (índices, pontuações), calculados a partir de algoritmos complexos, que é suposto representarem de forma objectiva o seu grau relativo de impacto, influência e prestígio e, por consequência, a sua posição nos rankings.

São vários os organismos e as empresas – o universo editorial das revistas científicas é também, cada vez mais, uma área de negócio – que oferecem os seus sistemas de classificação, mas há dois ou três que se destacam pelo seu prestígio internacional. Um deles é o conjunto de índices JCR (Journal Citation Reports), produzido pela Clarivate Analytics com base nas revistas indexadas na WoS – Web of Science. Outro é o índice SJR (Scimago Journal Rank), produzido pela Scimago com base nas revistas indexadas na Scopus. Poderia ainda acrescentar-se os índices que a própria Scopus tem vindo a desenvolver e a tentar impor desde 2016 (Citescore, SNIP). Todos estes sistemas, bem como o princípio, em si, de classificar e hierarquizar as revistas, têm os seus defensores e os seus críticos, mas o certo é que vieram para ficar e dificilmente qualquer revista poderá seguir outra opção que não a de se adaptar à realidade.

Vem isto a propósito da recente publicação dos índices e rankings relativos a 2020, nos quais a Ler História apresenta uma evolução muito positiva. No índice SJR, a Ler História não só subiu 50 lugares como voltou a obter, e pelo quarto ano consecutivo, uma posição no segundo quartil (Q2) do ranking mundial das revistas de História, posição que é única no contexto das revistas portuguesas da especialidade. No caso dos índices próprios da Scopus, os resultados são ainda melhores. A Ler História duplicou o seu citescore para 0.4, o que significa que as citações que recebeu representam 40% dos artigos publicados nos últimos quatro anos; e quadruplicou o factor de impacto traduzido pelo SNIP (Source Normalized Impact per Paper), um indicador que mede as citações recebidas relativamente àquelas que seriam de esperar na área disciplinar da revista. Além disso, subiu 244 lugares no ranking mundial, passando a situar-se, também aqui, no Q2. Estes resultados, não obstante toda a relativização que deles se possa fazer, são muito estimulantes para a Ler História porque a consolidam num patamar de referência não só em Portugal como a nível internacional.

Numa apresentação sumária do número que agora se publica, nele sobressai, desde logo, o dossier dedicado à mobilidade no Mediterrâneo, um tema cuja actualidade é indiscutível – considere-se a intensidade dos fluxos migratórios na e para a Europa, as recentes crises de refugiados, e os problemas relativos à incorporação das comunidades migrantes nas sociedades de acolhimento – e que aqui é colocado em perspectiva histórica de longa duração, desde a Idade Média até ao século XIX. Todas as secções especiais desta edição são também muito fortes. No Espelho de Clio publicamos um artigo colectivo evocando a memória do historiador José Tengarrinha (1932-2018). A secção Em Debate inclui uma mesa-redonda sobre a história global de Portugal, a pretexto do livro recém-publicado sobre o tema, assim como um artigo que discute a história e as questões suscitadas pelo open access, essa nova realidade incontornável no sector editorial académico. Merecedora de uma nota especial de destaque é a nova secção Magna Opera, para a qual convidaremos vários historiadores de referência a revisitarem a sua “grande obra” e a discutirem a recepção que ela teve, começando, neste número, com um ensaio de Tamar Herzog sobre o seu livro Defining Nations (2003). Acreditamos que esta secção, assente num conceito inovador no panorama das revistas da especialidade, irá enriquecer bastante os conteúdos da revista e reacender o debate em torno de obras que têm marcado a escrita da história. Para além do dossier e das secções, o LH 78 compreende ainda um conjunto de outros artigos sobre os espaços sagrados na Goa dos séculos XVI-XVII, a tratadística jesuíta espanhola do século XVII, a exploração científica da Amazónia no século XVIII, o sindicalismo no futebol nos anos da Revolução de Abril e as relações Portugal-Espanha após o fim dos regimes autoritários. Tudo boas razões para se continuar a ler história.

Informações adicionais

  • Edição: n.78 de 2021
  • Instituição: Instituto Universitário de Lisboa
  • Dossiê: Mobilidade e desenraizamento no Mediterrâneo: Introdução