Educação Museal

Por Andréa Telo da Corte* e Barbara Harduin**
 
O International Council of Museums (ICOM) define museu como “uma instituição que adquire, conserva, estuda, expõe e transmite o patrimônio material e imaterial da humanidade e do seu meio, com fins de estudo, educação e deleite”. Entretanto, nem sempre foi assim.
29 Mai 2017 0 comment
O International Council of Museums (ICOM) define museu como “uma instituição que adquire, conserva, estuda, expõe e transmite o patrimônio material e imaterial da humanidade e do seu meio, com fins de estudo, educação e deleite”. Entretanto, nem sempre foi assim.

A etmologia da palavra remete-nos ao grego mouseion: a morada das musas protetoras das Artes. A deusa Memória (Mnemose) dava aos poetas e adivinhos o poder de voltar ao passado e de lembrá-lo para a coletividade, além do dom da imortalidade, pois quem se tornasse memorável não morreria jamais. Nessa perspectiva, a noção de museu cristaliza em sia complexidade da relação entre memória-passado-identidade-esquecimento, que tem no debate dos “lugares de memória” um dos eixos de discussão em torno do tema.

A Biblioteca de Alexandria foi o primeiro prédio a receber a denominação de museu. Na Idade Média, os “gabinetes de raridades e os tesouros”, mantidos pela Igreja ou pelas casas reais também foram designados como museus. Em meados do século XVIII, museu passa a designar um espaço de preservação científica.

O advento da modernidade redefiniu os museus atribuindo-lhe o status de “instituição cultural socialmente reconhecida”, em “estreita articulação com a formação do estado-nação moderno e dos impérios coloniais europeus corresponsáveis pela educação dos seus cidadãos”. A prática museologia derivada dessa concepção caracteriza-se por seu direcionamento ao público burguês, centrado nas coleções, no edifício fechado em si mesmo, e numa função pedagógica de fundo positivista e autoritária difusora de “narrativas e representações eurocêntricas sobre as culturas, a ciência, a arte, o povo, a nação, o império, a classe, a raça.” (DUARTE, 2013)

A crise da modernidade repercutiu nos museus iniciando uma onda de renovação desde os anos 60 do século XX que mantem seu fôlego no XXI. Tal renovação baseia-se na recusa do museu como “depósito lúgubre de objetos” e no seu entendimento como “espaço discursivo, cujas narrativas expositivas descortinam significados quer construídos e comunicados, quer suas implicações ideológicas, políticas e éticas”. Essa metamorfose revela duas linhas distintas: o museu como projeto e o ideal político de democratização cultural por intermédio dos museus; e a criação de um campo de reflexão teórica sobre museus e as práticas museais. Em comum está a premissa de situar os museus como “instrumentos de aprendizagem e animação sociocultural permanente, em articulação estreita com as pessoas”, o que deu margem à diversificação tipológica existente nos dias de hoje, como os museus de território, os comunitários, os ecomuseus, parques nacionais, as cidades monumento, e os museus virtuais, entre outros e também ensejou a definição ampla e dinâmica adotada pelo ICOM desde 2007.

A educação transformou-se então em eixo estruturante dos museus. Tradicionalmente o museu era visto como uma sala de aula ampliada e a visita mero complemento do currículo. A noção de complementaridade deu lugar ao entendimento de que os museus integram a rede de instituições que contribuem para a educação integral e contínua do indivíduo, para além do sistema escolar.

O foco da educação museal está no: “o objeto musealizado, o espaço ou território do museu, integrando conceitos de cultura, memória, patrimônio e sociedade”. (Castro, 2015). É a partir dele que se desenvolvem práticas que visam atingir um público amplo e diversificado, devendo contribuir significativamente para a capilarização do conhecimento e para sua democratização.



Bibliografia:

AIDAR, Grabriela; CHIOVATO, Milene. Museus. In  PARK, Margareth Brandini(org). Palavras-chave em Educação Não-formal. SP, Editora Setembro, 2007.

CASTRO, Fernanda Rabello de. Há sentido na educação não formal na perspectiva da formação integral?  Revista do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da UNB.Vol.4, n.8, dez. 2015.

DUARTE, Alice. Nova Museologia: os pontapés e saída de uma abordagem ainda inovadora. In Revista Eletrônica do Programa de Pós-graduação em Museologia e Patrimônio-Unirio/Mast-vol.6, nº 1, 2013.

MARANDINO, Martha (org). Educação em Museus: a mediação em foco. São Paulo, SP:Geenf/FEUSP, 2008.



*Andréa Telo da Corte é doutora em História pelo PPGH-UFF/Foi coordenadora do Centro de Estudo de História fluminense do Museu do Ingá 2008-2017.
**Barbara Harduin é Professora da Rede Pública do Estado do Rio de Janeiro/ Foi coordenadora do Setor Educativo do Museu do Ingá- 2008-2014. 
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