JORNADA DA ANPUH: HISTÓRIA E ÉTICA

Há várias razões que tornam oportuno realizar uma jornada de debates sobre a ética no trabalho do historiador. A questão está na pauta da ANPUH há algum tempo e, finalmente, chegou a ocasião de dar-lhe a devida atenção.
 
Parte da motivação para esta inciativa deve-se à criação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), instituição subordinada ao Conselho Nacional de Saúde que tem a missão de estabelecer procedimentos éticos para a pesquisa científica. No âmbito da Conep foi criado um Grupo de Trabalho para elaborar uma resolução complementar sobre ética em pesquisa para as ciências humanas e sociais, que conta com representantes indicados pela ANPUH. Tal quadro tem gerado ansiedade nas ciências humanas e sociais, e com razão, pois há o risco de que, mesmo com o trabalho do GT junto ao Conep não sejam consideradas devidamente as nossas especificidades.
 
A criação da Conep e do GT tornou mais urgente a discussão sobre o tema da ética na história, o que nos motivou a tomar a iniciativa deste debate. Além de definir o ponto de vista dos historiadores frente à resolução complementar que será submetida à consulta pública pelo Conep, um problema atual e candente, interessa-nos refletir sobre a questão de maneira mais ampla, independentemente da pauta das agências oficiais. O cuidado ético com o tratamento das fontes, com os procedimentos metodológicos e com a produção do conhecimento não deve se prender a demandas conjunturais e sim constituir um dos fundamentos básicos da nossa área.
 
Assim, a ANPUH convida para uma jornada de debates sobre a ética no trabalho do historiador, que tem o propósito de oferecer aos pesquisadores da nossa área algumas sugestões de procedimento. É fundamental os próprios historiadores refletirem sobre os limites e implicações éticas do seu trabalho. O que podemos ou não fazer, o que seria uma linha de conduta adequada visando interesses coletivos e o bem da sociedade? O estabelecimento de um código ético é índice de amadurecimento profissional do grupo, de sua seriedade e importância social. Mas, no caso do trabalho dos historiadores é preciso atentar para as peculiaridades. Diferente dos médicos e outros profissionais da área biológica, nossa atividade não coloca em risco a vida ou a saúde dos indivíduos. Nosso labor tampouco lida com os bens das pessoas ou a garantia de sua liberdade, como no caso do trabalho dos advogados. O trabalho do historiador consiste, essencialmente, em construir e divulgar representações sobre as sociedades no tempo, por isso, nosso trabalho não implica a vida em sentido físico e material, mas tem impacto na vida social e cívica. Isso se aplica a objetos muito recuados no tempo também, entretanto, é um desafio mais premente quando os temas e atores são mais próximos de nós. Por exemplo, como lidar com documentos sigilosos do Estado, agora acessíveis à consulta pública e à pesquisa, resguardando tanto o interesse social de destrinchar a máquina repressiva como o direito à privacidade dos cidadãos afetados?
 
Tendo em vista esse cenário, reunimos um grupo qualificado de historiadores para refletir e discutir com profundidade tais questões. Incluímos no programa também colegas provenientes das ciências sociais, por entender que muitos dilemas e desafios são comuns e teremos muito a ganhar com a ampliação do foco. Esperamos atrair um público interessado e motivado para o debate, na expectativa de que os resultados dessa Jornada sejam marcantes e frutíferos, para nós e para a sociedade.

Para estimular as discussões elencamos alguns temas, na forma de perguntas, que podem servir como balizas ou sugestões para os palestrantes orientarem suas reflexões:

.Que posição os historiadores devem adotar diante dos resultados iniciais dos trabalhos do GT de Ciências Humanas e Sociais convocado pela Conep?

.Deveria a ANPUH estabelecer um código de ética para os historiadores brasileiros?

.Qual o lugar da ética nas atividades de produção do conhecimento histórico?

.Como proceder eticamente quando a pesquisa envolve documentos sigilosos de períodos recentes? Ou quando mobiliza testemunhos e pessoas vivas?

.Os padrões éticos dos professores de história seriam iguais aos dos docentes de outras áreas? Ou há situações específicas a considerar?

.Como lidar com a questão de autoria e do plágio? O que caracterizaria plágio na nossa área?