EM MEMÓRIA DO PROF. CIRO FLAMARION CARDOSO

Conheci os livros do Prof. Ciro Cardoso enquanto eu fazia o Mestrado no Mexico, através de três obras suas e do Prof. Héctor Brignoli, publicadas em 1976: “Tendencias actuales de la historia social y demográfica”,“Perspectivas de la historiografia contemporánea” (México) e “Los métodos de la história”,  publicado em Barcelona. Em um momento em que Teoria e Metodologia da História era um tema tão pouco discutido/ensinado em nossos cursos de História, em que nem se sabia o que eram “reflexões epistemológicas”, estes e os sucessivos trabalhos do Prof. Ciro Cardoso foram fundamentais para a minha formação e, não tenho dúvidas, para muitos outros historiadores brasileiros e latinoamericanos de mais de uma geração (ele é ainda hoje provavelmente o autor nacional mais citado nas bibliografias das disciplinas de Introdução à História de nossos cursos). Com uma experiência de pesquisa e trabalho docente desenvolvida na França, México, El Salvador, Costa Rica, Inglaterra, sua longa permanência no exterior deveu-se ao risco de regressar ao Brasil por estar arrolado em inquéritos policiais-militares da ditadura. Embora sempre tivesse acompanhado sua produção acadêmica, só conheci toda a riqueza de sua “experiência historiadora” quando, há algum tempo, li a entrevista que concedeu a Jose Vinci de Moraes e José Rego para o livro “Conversas com historiadores brasileiros”. Sua trajetória acadêmica foi diversificada, sólida e erudita, exercida no Brasil principalmente na graduação e pós-graduação da UFF. Mas nessas poucas linhas, quero apenas destacar sua contribuição, no meu entender impar, para a Teoria e Metodologia da História, contribuição marcada pela fidelidade a este campo de conhecimento e que menciono aqui como uma forma de prestar-lhe uma merecida homenagem. Ao longo dos quase quarenta anos em que publicou mais de trinta livros e muitos artigos, inspirados principalmente pelo marxismo e por algumas linhas dos Annales, o Prof. Ciro Cardoso foi um crítico agudo e constante de tudo aquilo que significava a desconstrução da disciplina e dialogou ou polemizou, nos momentos correspondentes, com todas as questões importantes sobre a História, a produção de seu conhecimento e as ferramentas para o trabalho do historiador. Sempre em defesa da concepção realista da História, se nos anos 70 discutia o então recente aporte da quantificação aos historiadores, hoje suas polêmicas se voltavam em direção aos efeitos das tendências pós-modernas, do neoconservadorismo e da nova história cultural sobre o conhecimento histórico. Concordando ou não com suas análises, ele merece nosso respeito por sua coerência e pelos serviços que prestou ao desenvolvimento do conhecimento histórico em nosso país. Que sua lembrança seja um inspiração duradoura para  seus alunos, colegas, amigos e familiares..   

 

Silvia Regina Ferraz Petersen – Depto. e PPG em História da UFRGS