NOTA DE FALECIMENTO - JOHN MANUEL MONTEIRO

Hoje, estamos tristes. Foi-se John Manuel Monteiro. Historiador combatente das causas indígenas, ele deixa orientandos, alunos, colegas e amigos órfãos da presença questionadora, companheira e generosa. A trajetória de John Monteiro confunde-se com uma das mais importantes inflexões da historiografia brasileira, no final do século passado. Desde ‘Negros da Terra’, junto com outros especialistas, ele desenhou o campo da História Indígena e do Indigenismo.

Seus inúmeros trabalhos – artigos, capítulos de livros, livros, aulas, orientações e falas – convergiram, desde há muito tempo, para a ampliação e consolidação de uma perspectiva que subvertia o lugar freqüentemente dispensado aos povos indígenas nas narrativas sobre o passado brasileiro. Sua produção comprometeu-se com o reconhecimento do indígena como um agente histórico pleno. Ela recusava a idéia de que as violências, as circunstâncias da Conquista ou da expansão da sociedade nacional solaparam a capacidade indígena de articular-se e escolher.

Um rol extenso de trabalhos seguiu pela senda aberta por John Monteiro e outros pesquisadores. E as manifestações de lamento e dor, neste momento tão difícil para todos, também se explicam por uma característica importantíssima de sua atuação. John Monteiro reconheceu a diversidade e a complexidade da produção historiográfica nacional. Leitor incansável, reuniu trabalhos produzidos por historiadores em todos os pontos do território, em uma plataforma que merece toda nossa atenção daqui para frente. Não estabeleceu hierarquias, não advogou prerrogativas e não recusou perspectivas.

Hoje, a História está de luto. Nossas preces estão com a família, os amigos e todos aqueles que foram influenciados por esse grande historiador e sofrem a despedida. Mas, a História não termina aqui. Cabe aos que ficam, permanecer na trilha, fortalecer o legado, ampliar a discussão e consolidar os ensinamentos. Ao nosso querido mestre John Monteiro, muito obrigado.