CARTA AOS ASSOCIADOS E ASSOCIADAS

São Paulo, 23 de dezembro de 2020.


A Associação Nacional de História, nos últimos dois anos, deu passos largos em direção a uma nova conformação de suas práticas internas e de sua relação com a sociedade brasileira. Esta gestão, nascida de uma discussão formulada desde as regionais, foi constituída por meio de amplo debate, envolvendo grupos de diferentes partes do país. Tratou-se, pois, de uma chapa construída na discussão ampliada, pública e franca.

Desde que assumiu, ela tem se mantido atenta à ampliação de sua inserção no debate nacional, por meio do estabelecimento de maior interlocução com as entidades coirmãs, especialmente aquelas reunidas em torno da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Ela vem investindo, também, em ampliar seus espaços de discussão, por meio do estabelecimento de canais de diálogo com os associados e o público mais amplo, a partir da rede mundial de computadores.

A diretoria vem dando continuidade às lutas da Associação. De um lado, concluiu o processo de regularização da profissão, iniciado tempos atrás. Aqui, contou com a participação intensiva e efetiva de associados que acompanharam o processo desde gestões anteriores e outros que, ingressando nos debates neste momento, contribuíram imensamente para as tratativas no Congresso Nacional e o resultado alcançado – tanto na aprovação, em um primeiro momento, quanto na derrubada do veto.

De outro lado, deu um passo decisivo no estabelecimento de maior diálogo com a Educação Básica, por meio da instituição do Prêmio Déa Fenelon de Ensino de História. Depois de anos reconhecendo a pesquisa histórica, produzida desde os programas de pós-graduação, a associação passa a distinguir o conhecimento histórico produzido desde as salas de aula da Educação Básica.

Chegada, então, a metade do mandato delegado pelos associados, inicia-se a discussão sobre a gestão subsequente. Desde há algum tempo, as direções tem constituído seus sucessores. Não é nossa prática recorrente o embate entre projetos, personificados em chapas, constituídas de modo franco e público, a partir de programas e expectativas. Parece-nos, pois, que o momento não poderia ser mais adequado.

Vivenciando um momento de ataques à democracia, no qual as conquistas dos movimentos sociais e a atuação política são condenadas, parece-nos apropriado que a Associação Nacional de História persiga o caminho contrário, fortalecendo, nas suas discussões internas, a discussão, o debate e o confronto de ideias.

Ao completarmos sessenta anos, temos a maturidade e o estofo necessários para estabelecermos um novo paradigma na escolha de nossos dirigentes, tornando o processo sucessório um momento propício para discutirmos a associação e os seus rumos. Para tanto, é fundamental que os associados se sintam protagonistas do processo. Que entendam ser legítimo e desejável que se articulem em torno de questões, problemas e projetos e assumam o debate sobre a ANPUH, seu futuro, sua relação com a sociedade e sua função social – especialmente no momento mesmo em que a História é colocada em dúvida e seu espaço na Educação Básica é diminuído.

Por isso, a atual gestão assume o compromisso de não constituir a gestão que lhe sucederá. Isto significa dizer que esta gestão, na pessoa dos seus diretores, não endossa qualquer candidatura, não se manifestarão, como corpo, em favor de qualquer candidato e não participará de qualquer arranjo, discussão, debate envolvendo a formação de chapas. A atual gestão cumprirá a função institucional de conduzir os debates e promover a discussão, regulando o processo eleitoral e incentivando os associados a assumirem o protagonismo do processo.

No momento em que a democracia sofre golpes sucessivos, que uma vaga conservadora busca tornar letra morta as conquistas sociais, que a política é demonizada, que o debate e o contraditório são questionados, a Associação Nacional de História assume o compromisso de valorizar o debate, a discussão e articulação política entre os seus associados. Assim, esperamos contribuir para que a cultura democrática não encontre solução de continuidade, posto que reproduzida nas diversas instâncias da vida social brasileira – a nossa inclusive!


Diretoria da ANPUH-Brasil
Biênio 2019-2021