LIBERTAÇÃO IMEDIATA DE GALO, GÉSSICA E BIU

A Diretoria da ANPUH-Brasil recebeu ontem manifestação acerca dos acontecimentos recentes envolvendo o protesto contra o monumento ao Borba Gato em São Paulo e a repressão policial que se seguiu com a prisão de pessoas supostamente envolvidas com o ato. Por oportuno, a ANPUH-Brasil divulga trechos do texto que acreditamos trazer importantes contribuições ao debate e convida toda a comunidade historiadora a se engajar e se manifestar sobre o tema.

"A intervenção política realizada no monumento a Borba Gato, localizado na cidade de São Paulo, gerou um intenso debate na sociedade brasileira. A intervenção constituiu em atear fogo em uma estátua feita de pedras. As imagens da estátua cercada por chamas tomaram conta da imprensa e das redes sociais ativando uma discussão, nem sempre explícita, sobre a história do país, identidade nacional e regional, o papel dos símbolos públicos e o lugar e impactos da escravização de negros e indígenas na própria formação da nação.

Longe do exagero, é possível afirmar que a ação sobre o monumento pode ser interpretada como um ataque à imagem monumentalizada do bandeirantismo. Como é sabido, este foi eleito como um marco civilizatório apenas nos séculos XIX e XX, pela classe dirigente de São Paulo, por parte da historiografia e pelo patrimônio, propondo a criação e alocação de monumentos em espaços públicos sem diálogo com os herdeiros daqueles grupos sociais ainda subalternizados.

Nesse sentido, a intervenção, reivindicada pelo grupo “Revolução Periférica”, atingiu seu principal objetivo: mobilizar a sociedade brasileira a pensar sobre seu próprio passado, bem como as constantes releituras a que ele está sujeito. No entanto, a resposta do Estado e de diversos setores políticos tem sido a de rejeitar esse debate e de criminalizar a ação política. Nessa semana, três pessoas foram presas suspeitas do atentado contra o monumento. São elas: Paulo Roberto da Silva Lima (conhecido como Galo), Gessica Barbosa e Danilo Oliveira (conhecido como Biu).

Galo, como é sabido, é uma importante liderança dos entregadores de aplicativos, uma das categorias mais precarizadas e exploradas nos mundos do trabalho contemporâneo. Independente da opinião que se tenha sobre a ação do grupo Revolução Periférica, as prisões são um grave atentado ao estado democrático de direito e uma clara tentativa de criminalização dos movimentos sociais" (Assinam: coordenação dos seguintes grupos de trabalho da ANPUH:Mundos do Trabalho (Associação Nacional de História do Trabalho); Os Índios na História; História Antiga; Emancipações e Pós-Abolição; Ensino de História e Educação; Rede Historiadorxs Negrxs)."

Em reunião realizada hoje, dia 30 de julho de 2021, a Diretoria da Associação Nacional de História - ANPUH-Brasil, repudia veementemente a criminalização dos movimentos sociais e pede a libertação imediata de Galo, Géssica e Biu.

Independentemente de visões particulares que se tenha sobre a propriedade e tempestividade da manifestação política, cabe a construção de um debate público amplo e com consequências concretas e urgentes sobre a memória e monumentalização em nossas cidades. A ANPUH-Brasil está engajada e em luta e se compromete a promover esse e outros debates urgentes de nosso tempo!