ANPUH-RJ -Thiago Reis
"Anpuh-Rio em foco": SOBERANIA: como eu aprendi
SOBERANIA: como eu aprendi
Ocupação
# A UERJ tem História
SNH2017
Abaixo, listamos os Simpósios Temáticos coordenados por professores ou pesquisadores do Estado do Rio de Janeiro:
NOTA DA ANPUH-RJ SOBRE A SITUAÇÃO DA UERJ
Racismo
NOTA PÚBLICA DA ANPUH-RIO SOBRE A MANUTENÇÃO DOS PROJETOS DA BIBLIOTECA PÚBLICA DE NITERÓI
"Anpuh-Rio em foco": publicado novo texto
Moção de repúdio do GT Estudos de Gênero contra a violência de gênero
Nota de repúdio da ANPUH-RJ à operação ocorrida na Universidade Estadual de Goiás
A ANPUH-RJ considera que este evento é mais um gravíssimo exemplo da escalada de ações repressoras desencadeadas pelas diferentes instâncias do Estado brasileiro contra os movimentos sociais, particularmente aqueles ligados à defesa da educação pública, gratuita e de qualidade.
Por esta razão, a entidade mantém-se alerta, na esperança de que as ações violentas perpetradas pelo Estado sejam suspensas, posto que as manifestações sociais devem permanecer legitimas, numa sociedade democrática, plural e laica.
Márcia Motta & Ricardo Castro (presidentes da ANPUH-RJ)
ANPUH-IDEIAS: HISTÓRIA E CURRÍCULOS
Com a intenção de debater as mudanças que afetam o currículo dos cursos de licenciatura em História e, consequentemente, a formação do professor e seu impacto no Ensino de História, a Anpuh-Rio promoverá o Anpuh-Ideias: História e Currículos no dia 31/10/2016 às 13:30h, no auditório do AGCRJ. Para essa primeira edição, contaremos com a presença dos debatedores Silvana Bandoli Vargas, professora no Colégio Pedro II, e Henrique Estrada, professor na PUC-Rio, com mediação de Raquel Alvitos, professora no Instituto Multidisciplinar da UFRRJ.
A Anpuh-Rio franqueará gratuitamente a inscrição de ouvintes interessados em certificação, para isso será necessário o preenchimento da ficha de inscrição disponível AQUI.
Seminário "Livros didáticos de História: entre políticas e narrativas"
A primeira parte propõe um balanço crítico dessa política pública, com participantes do programa e ou pesquisadores sobre o tema do ensino de história, suas políticas e o livro didático. Abordará o programa em seus diferentes momentos, seus impasses na relação com os diversos agentes sociais implicados com o complexo processo, em sua produção e recepção. Também proporá uma visão prospectiva dessa política de Estado, diante dos impasses da contemporaneidade.
A segunda parte apresenta um conjunto de análises sobre narrativas acerca de temas recorrentes nos livros de História, presentes nas coleções do PNLD 2011, que constituíram o corpus da pesquisa apoiada pela Faperj durante os últimos três anos. Haverá mesas com análises de especialistas sobre alguns temas canônicos dos livros didáticos.
O evento é dedicado a um público de especialistas e estudiosos, estando aberto ao público em geral. Sua programação será iniciada com work shops sobre os livros didáticos de História, voltados ao público professor do ensino básico
NOTA DE REPÚDIO DA ANPUH-Rio
Nota de pesar pelo falecimento do Prof. Dr. Ricardo de Oliveira
É com tristeza que informo o falecimento do Prof. Dr. Ricardo de Oliveira, do Departamento de História e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em História da UFRRJ.
Formado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993), lá também concluiu o Mestrado (1998) e o Doutorado (2004), este último sob a orientação de Jacqueline Hermann. Defendeu tese intitulada “Pela Graça do Rei: um estudo sobre o valimento no Antigo Regime Ibérico. O caso de Alexandre de Gusmão”.
Antes de lecionar na UFRRJ, na área de História Moderna, Ricardo foi substituto na UFRJ e atuou em instituições privadas: Faculdade de Filosofia de Campo Grande, Universidade Iguaçu e Colégio São Vicente de Paulo.
Mais recentemente, foi Jovem Cientista do Nosso Estado da FAPERJ (2012-2014) com o projeto “Retratos da Maldade: a demonização do valimento no pensamento político ibérico do Antigo Regime” e também se destacou como professor e orientador na graduação e na pós-graduação. Ao longo de oito anos, orientou nove dissertações de mestrado e oito monografias de conclusão de curso. E teve atuação decisiva no processo de expansão das Humanidades na UFRRJ com apoio do REUNI.
Seus companheiros de trabalho lamentam a morte prematura de um indivíduo conciliador, bem humorado, jovem de idade e de ideias, que contribuiu muito para a vida coletiva em nossa instituição.
Atenciosamente,
Rebeca Gontijo
NOVA DIRETORIA DA ANPUH-RIO TOMA POSSE
Carta sobre o Seminário Estadual da BNCC sediado no Rio de Janeiro
Segunda Convocação para a Assembleia Geral Ordinária
Fórum de Pós-Graduação em História da Anpuh-Rio
Fórum de Graduação em História da Anpuh-Rio
Convocação de Assembleia Geral Ordinária
Normas para criação de Grupos de Trabalho no Rio de Janeiro
Reuniões de GT's e outras organizações durante o XVII Encontro de História
Início da votação para as eleições dos Conselhos da Anpuh-Rio, biênio 2016-2018
II Encontro Nacional do GT Estudos de Gênero - ANPUH
VIII Encontro Estadual do GT de Ensino de História e Educação da Anpuh–RJ
I Colóquio Internacional Movimentos Trânsitos e Memórias
Homologação de chapa única candidata na eleição dos Conselhos da Anpuh-Rio: Biênio 2016-2018
IX Simpósio Nacional Estado e Poder: Gramsci e a Pesquisa Histórica
XIII Jornada de História Universidade Estácio de Sá
Programação da XIII Jornada de História Universidade Estácio de Sá. Data: 21/05/2016. Local: Campus Centro I (Av. Presidente Vargas, 642. Centro - Rio de Janeiro).
Edital de convocação para eleição dos Conselhos da Anpuh-Rio: Biênio 2016-2018
Carta de pesquisadores sobre a BNCC enviada à Anpuh-Brasil
Relatório da Profa. Ms. Renata Lira sobre a BNCC
O documento anexo apresenta a visão da Profa. Ms. Renata Lira, da Escola Municipal Reverendo Martin Luther King, sobre a BNCC História.
Para acessar o documento, clique aqui.
Uma História para o conformismo e a exaltação patriótica: crítica à proposta de BNCC /História
Texto do professor Gilberto Calil, publicado no Blog Junho em 24/02/2016.
MANIFESTO PÚBLICO DO SEMINÁRIO ESTADUAL REALIZADO PELA ANPUH/PR SOBRE A BNCC
PELA REJEIÇÃO DA PROPOSTA DE BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR PARA A ÁREA DE HISTÓRIA APRESENTADA PELO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.
Relato da II Jornada de História da Anpuh-Rio: discussão da BNCC
A seção Rio de Janeiro da Associação Nacional de História (Anpuh-Rio) realizou, no auditório da Universidade Veiga de Almeida, no dia 22 de fevereiro de 2016, a II Jornada de História da Anpuh-Rio: discussão da BNCC.
Nota do GT de História da África da Anpuh Brasil e da Associação Brasileira de Estudos Africanos (ABE-África) sobre a proposta da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o Ensino de História
Revista Passagens (Uff). Chamada de artigos
O periódico é B1 na classificação Qualis da CAPES e está indexada em Dialnet, DOI (CrossRef.), Portal de Periódicos da CAPES/MEC-Brasil, Redalyc, EBSCO, Réseau Européen Droit et Societé e Latindex.
PROGRAMAÇÃO - II Jornada de História: Discussão da BNCC
A BNCC e a história social do trabalho (CPDOC/FGV)
Carta da profa. Ismenia de Lima Martins contra os cortes na FAPERJ
Memórias da Moscouzinho
Abertas as inscrições para IV Seminário Fluminense de Pós-graduandos em História
A quarta edição do Seminário Fluminense de Pós-graduandos em História ocorrerá nos dias 19, 20, 21 e 22 de julho de 2016, nas dependências da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), localizada no município de São Gonçalo.
II Jornada de História: Discussão da BNCC
Inscrições abertas: apresentadores de trabalho e minicurso
Estão abertas as inscrições para apresentadores de trabalho e participantes de minicurso no XVII Encontro de História da Anpuh-Rio: entre o local e o global. Maiores informações sobre prazos, valores e condições acessem a página do evento: www.encontro2016.rj.anpuh.org
Marxismo e religião: dossiê.
NOTA DE REPÚDIO AO PROJETO DE EMENDA CONSTITUCIONAL No 18/2015 DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO RIO DE JANEIRO
Carta da Associação Brasileira de Estudos Medievais sobre a BNCC
ALGUNS ESCLARECIMENTOS SOBRE A JORNADA DE HISTÓRIA DA ANPUH-RIO: DISCUSSÃO SOBRE A BNCC
Revista Encontros (Colégio Pedro II)
Carta de professores do Norte e Nordeste sobre a BNCC
Inaugurado canal da Anpuh-Rio no You Tube
Nova face do autoritarismo
Posição de um grupo de historiadores fluminenses enviada à ANPUH-Brasil em 30 de novembro de 2015, acerca da "Carta crítica da Anpuh/Rio ao componente curricular História na BNCC":
BNCC - Próximas medidas a serem tomadas. Nota da Anpuh-Brasil
NOTA DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA SOBRE A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR – BNCC
Uma carta sobre as cartas à carta
Carta aberta a Hebe Mattos e Carlos Fico
Resposta a Hebe Mattos: “Sobre a BNCC e os historiadores”
(Por Alexandre Santos de Moraes)
Peço licença
Aos donos da mangueira
Pra ver uma pastora
Que eu gostei de ver
Que eu gostei de ver sambar
(Peço Licença — Zé Kéti)
Zé Kéti, que era compositor da Portela, endereçou o samba Peço Licença "aos donos da Mangueira". No programa MPB Especial de 1973 ele nos conta que namorava uma moça chamada Tina, filha de Tinguinha, vice-presidente da Estação Primeira. Como era radicado em outra agremiação, era de bom tom que chegasse devagar, com respeito, sinalizando suas boas intenções. Era como se fosse um estrangeiro adentrando um território hostil. Peço licença a Zé Kéti para adotar o mesmo expediente nesse texto, bem diferente no compasso e no entushiásmos que sua música provoca. Peço licença porque respeito a posição de minha colega de departamento, porque sinalizo a intenção de promover um diálogo democrático acerca da BNCC, mas, principalmente, porque me sinto um estrangeiro nessa questão.
Concordo com o texto de Hebe Mattos em muitos pontos. Estou de acordo, por exemplo, que é preciso questionar a necessidade de uma Base Nacional Comum, variável que se for levada a sério faz ruir todo o debate subsequente, já que o conteúdo fica subordinado ao princípio que rege sua existência. Concordo também que é preciso um diálogo com toda a comunidade de educadores, de historiadores e com a sociedade antes de ser aprovada. Mas é aí que surge o hiato que distingue a forma com que nos posicionamos. Após essas considerações, ela escreve: "Mas fico feliz que tenhamos largado para discussão a partir de um documento tão radical no seu esforço de romper com o eurocentrismo que informa a concepção de história até agora predominante no ensino de história do país".
Antes de tudo, não acredito que essa discussão esteja realmente acontecendo. A forma com que a BNCC foi apresentada, de supetão, com mais ou menos três meses para a consulta pública, é o primeiro ponto. Três meses é tempo suficiente para ler, refletir, criticar e propor uma alternativa a um documento dessa envergadura até então desconhecido? Mais do que isso, só podemos criticar aspectos pontuais, pois seus fundamentos estão blindados. A proposta só pode ser aperfeiçoada, e não repensada. Não há diálogo aberto se os termos são limitados por princípio, de modo que a ideia de consulta pública fica perigosamente comprometida. E vou além: por se tratar de um documento que busca prescrever aquilo que os professores deverão ensinar, seria de bom tom que todos os procedimentos e critérios que presidiram sua elaboração estivessem bem expostos. Quem tem interesse na discussão não pode ser tratado como estrangeiro, até porque xenofobia deveria ser coisa do passado. Não questiono a competência de quem redigiu a BNCC, mas que instância burocrática fez essa seleção? Quais foram os critérios? Por que apenas especialistas em Ensino de História? Pesquisa e ensino estão separados, a despeito dos discursos que criticam sua dissociação? Quem estabeleceu os critérios do que pode ser criticado? Quem vai analisar e julgar quais as críticas que procedem? Essa é apenas a ponta do iceberg, pois há que se discutir com clareza que modelo de educação está se buscando e, principalmente, qual é a real influência de entidades privadas nesse processo. Se a largada se deu dessa forma, temo que sejamos retardatários nessa corrida. Estrangeiros em um país de língua estranha.
Outro ponto importante, que tem sido pouco problematizado pela rapidez com que o debate precisa ser feito, é a questão do eurocentrismo. Estou plenamente de acordo que é um tema que exige reflexão, mas desconfio que a crítica ao eurocentrismo não se radique apenas na exclusão ou nas menções esporádicas a eventos históricos que seriam peculiares à Europa ou, melhor dizendo, ao espaço que hoje compreende aquilo que chamamos Europa. Fico imaginando que boa parte dos autores que nos estimulam a pensar os problemas brasileiros são europeus, e eles escrevem na e para a Europa na maioria das vezes. O eurocentrismo estaria apenas no sumário dos assuntos que poderíamos debater ou nos modelos que dão caldo para os assuntos debatidos? Mais do que isso, será que os pesquisadores que elaboraram a BNCC sabem que é possível pensar a Grécia Antiga, por exemplo, para além do paradigma eurocêntrico? Recordo o livro Unthinking the Greek Polis — Ancient Greek History beyond Eurocentrism (2007), de Kostas Vlassopoulos, que desencadeou uma discussão muito em voga sobre a forma com que os modelos nacionalistas europeus atuaram na construção da história da Grécia Antiga. Ora, se a crítica é ao eurocentrismo, se o problema está colocado e se ele participa da forma com que refletimos sobre a Antiguidade, o que justifica a absoluta exclusão da História Antiga do currículo escolar? Chega a ser curioso que a história dos gregos seja identificada com eurocentrismo no exato momento em que boa parte dos próprios gregos, em função da longa e interminável crise econômica, questione seu lugar na União Europeia.
Mas estou razoavelmente de acordo com Hebe Mattos quando ela diz que "A entrada pela história do Brasil, espaço de inserção política do estudante, faz todo sentido no contexto de uma base curricular mínima nacional [grifo dela]". No entanto, faço uma ressalva, pois temo que essa entrada não possua uma saída. Ela não é apenas o ponto de partida, mas também o de chegada. O problema não é fazer uma História do Brasil, mas uma História do Brasil que opera sob a lógica do nacionalismo (uma ideia, aliás, bastante europeia e eurocêntrica). Todos nós fazemos História do Brasil, ainda que pesquisemos a Antiguidade. Ainda que o célebre aforismo de Croce soe um pouco démodé, é difícil negar que toda história seja contemporânea, até porque Marc Bloch (e este não sai de moda!) sinalizou que "passado não é objeto de ciência". O Brasil e as questões de nosso tempo estão sempre incrustados em nosso horizonte. Por que não discutir a República Romana colocando nossa própria República em perspectiva? A questão feminina na Atenas Clássica, que ganhou fama cá no Brasil a partir da fina ironia de Chico Buarque, não nos ajudaria a refletir sobre as diferenças de gênero em nosso tempo? Não seria proveitoso comparar a democracia ateniense com a nossa democracia, como muitos historiadores brasileiros já fizeram? E que tal refletir sobre o "branquemento" dos egípcios antigos, objeto de análise, por exemplo, do historiador senegalês Cheikh Anta Diop, que teve sua tese de doutoramento recusada na Paris de 1951 por levantar essa discussão? Penso que a BNCC limitou uma proposta que, em si, é boa. Todos os temas são importantes, mas a forma com que são abordados é tão empobrecedora que produz ausências inadmissíveis. Começou mal, nos confins de um gabinete, razão pela qual feriu os olhos quando conheceu a luz do dia.
É por essas razões que não concordo com Hebe Mattos quando ela sugere "que a incorporação da noção de história Atlântica, articulando América, Europa e África, a partir da expansão marítima e comercial europeia, pode ser uma chave de leitura eficaz para superar o problema". A ideia é boa, mas pra mim continua sendo pouco. Podemos ir além. Até porque nem mesmo o samba, caso se concorde com Hermano Vianna, símbolo sempre evocado para a exortação da brasilidade, nasce dialogando com o estrangeiro. Decerto não tanto por ser um misto de coreografia africana com fandangos espanhóis e portugueses (como relatou o viajante Thomas Lindley em 1802), mas porque se rebelou, desde seu nascedouro, à finessè e às regras de etiqueta das elites baianas e cariocas que desconfiavam do ritmo vadio que até hoje nos faz sentir um pouco mais brasileiros quando ouvimos. Os gregos chamavam essa sensação de enthusiásmos, palavra que por causa de nossa própria história dispensa tradução.
Niterói, 2 de dezembro de 2015 — Dia Nacional do Samba.
Alexandre Santos de Moraes
Texto disponível: https://medium.com/@alexandremoraes
CARTA CRÍTICA DA ANPUH-RIO À COMPOSIÇÃO DO COMPONENTE CURRICULAR HISTORIA NA BNCC.
A Base Nacional Comum Curricular foi divulgada pelo Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação Básica, em setembro de 2015, apresentando componentes curriculares sujeitos à consulta pública através de um portal online, aberto para este fim até dezembro. Louvamos a iniciativa do MEC em cumprir o que estava previsto desde 1996 na Lei de Diretrizes e Bases sobre a elaboração de uma Base Nacional Curricular, metas reafirmadas ainda pelo Plano Nacional de Educação, de 2011, e pelas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, de 2013, dando início à implementação dessa etapa específica do PNE e promovendo um debate em torno da BNCC.
No entanto, a Associação Nacional de História, Seção Rio de Janeiro, encara com perplexidade a forma como esse processo foi encaminhado pelo governo: a súbita composição de uma comissão e assessoria que, no caso da área de História, em apenas três meses – de junho a setembro de 2015 – elaborou uma proposta que se encontra em um franco descompasso com as questões debatidas na historiografia e na formação de professores. E é de suma importância que o documento que propõe o currículo escolar que se tornará obrigatório inclua temas fundamentais para a construção do campo do saber histórico e que são parte da formação do professor de história nas principais universidades. O distanciamento entre as visões que ora são apresentadas no documento preliminar revela o quanto ensino e pesquisa foram dissociados.
Conforme apontado em manifestação divulgada pela Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (ANPED) acerca da BNCC, a metodologia adotada para a consulta pública pressupõe apenas a indicação de ajustes pontuais no documento preliminar, não admitindo alterações relativas a seus fundamentos. Isso impossibilita um real debate acerca dos aspectos centrais da proposta que estão em desacordo com as posições dos historiadores. Questionamos então se os debates e consultas estariam sendo promovidos apenas para legitimar o documento já elaborado e indagamos qual o potencial de mudanças substantivas que podem ser feitas na proposta a partir da metodologia adotada pela Secretaria de Educação Básica do MEC.
Os problemas esboçados na composição do documento submetido à consulta pública, no que se refere ao componente curricular de História, mostram o descompasso com as pesquisas historiográficas de ponta, ignorando todo o investimento público aplicado nas diversas subáreas dentro da História, tais como editais de pesquisa e programas fomentados pelo governo federal de incentivo à internacionalização do ensino. Nesse cenário, o que a BNCC propõe é uma história nacionalista e que não articula a integração do Brasil aos processos históricos globais. Fica, assim, evidente que os investimentos das agências de fomento em pesquisas nos Programas de Pós-Graduação em História não foram levados em consideração. Isso é extremamente grave, pois estamos lidando aqui com investimentos públicos aplicados em produção de conhecimento que não chegará ao currículo escolar.
Outro aspecto de suma importância: a temporalidade se constitui em eixo central para o conhecimento histórico, o que nos distingue de outros campos do saber. O tempo histórico é o tempo humano, o tempo da espécie humana em seu fazer-se, o Homem se reconhecendo em suas relações sociais. Neste ponto, apesar das boas intenções da proposta do componente de História na BNCC para o rompimento com uma perspectiva eurocêntrica e quadripartite, não há nada novo e realmente significativo no campo da pesquisa na área sendo incorporado ao documento apresentado. Apenas uma inversão dos parâmetros eurocêntricos por um conhecimento histórico com centralidade em uma História do Brasil. Portanto, a dimensão temporal precisa ser reelaborada e colocada enquanto eixo definidor da área, de forma semelhante ao que ocorre com a proposta de Geografia, que definiu o espaço como seu eixo fundamental.
Os estudos da pré e proto-histórias, assim como da Antiguidade e do Medievo – que foram descartados como conteúdos curriculares relevantes - pesquisam as movimentações populacionais entre os continentes, a circulação de ideias e objetos pelo Atlântico, pelo Mediterrâneo, Oceano Índico e até o Mar da China, não podendo ser confundidos com conteúdos eurocêntricos. Constituem campos fundamentais para o estudo de experiências humanas diversas daquelas nas quais os alunos estão inseridos, colocando em perspectiva uma história narrada como processo único e linear. Portanto, não perpetuam visões eurocêntricas, mas ao contrário as combatem. Ao invés de questionar cronologias, o currículo da BNCC traz visões distorcidas do passado, como se toda a história anterior às expansões marítimas modernas não estabelecesse relação com o próprio significado que adquire a América neste cenário. No conteúdo da BNCC, a formação territorial e nacional não se conecta com a história global, como se ideias, pessoas e objetos não circulassem.
Ressalta-se ainda que aspectos ultrapassados na discussão historiográfica, tais como os "ciclos econômicos", reaparecem para se fazer menção à economia colonial brasileira, reafirmando o distanciamento da BNCC com o quadro docente que se forma hoje nas instituições de ensino superior. Além disso, questionamos a centralidade do período colonial na construção da história do Brasil tal como é proposto no documento, demandando, também, melhor elaboração do enfoque sobre o Brasil império e sobre o Brasil contemporâneo, ainda que o tempo presente possa ser destacado, atendendo às demandas da escola.
Ainda chamamos a atenção para um aspecto que está em desacordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais: a falta de articulação entre os componentes curriculares. Isso é destacado na proposta quanto aos objetivos do Ensino Fundamental (anos finais) e do Ensino Médio, mas não se encontra nela a articulação interdisciplinar, distanciando áreas que historicamente carregam enormes influências e contribuem para a reflexão umas das outras, tais como geografia, filosofia e sociologia, ou ainda entre conteúdos correlatos, a exemplo da descoberta dos metais e desenvolvimento da metalurgia, que é vista em "Ciências da Natureza" no 7º ano, mas não em História. Pensamos que é urgente e necessária uma revisão da BNCC para que se possa realizar o que ela própria sugere ao organizar os componentes curriculares em Áreas de Conhecimento ("Ciências Humanas", por exemplo). Nesse sentido, a prevalecer a proposta como apresentada, desperdiça-se uma excelente oportunidade para a criação de condições favoráveis para uma verdadeira colaboração entre diferentes campos disciplinares.
Estamos, ademais, diante de uma visão prescritiva e moralizante (e não política) de cidadania, contida na proposta, na qual a resposta que se deseja do aluno já está dada no próprio modo de enunciação dos objetivos de aprendizagem. Se a resposta já está dada, o objetivo não induz à pergunta, à dúvida (pontos de partida da curiosidade e da pesquisa), à reflexão, mas apenas à busca de dados que confirmem o que, de forma apriorística, já foi enunciado como "a" dimensão cidadã. Na mesma direção, ao subdimensionar a importância do passado de outros povos, valorizando-se apenas o passado "brasileiro", o texto da base incorre num sério risco de negar o próprio conhecimento histórico enquanto conhecimento do Humano, impossibilitando a articulação crítica com a construção de outras ideias de cidadania, de política e de formação de identidades, inclusive a própria identidade nacional brasileira. Isso nos coloca o risco de propor para as próximas gerações a construção de uma visão de identidade sem alteridade.
Entender a construção da nacionalidade não pode prescindir da compreensão sobre as dimensões público/privada, o que incide no conhecimento de paradigmas centrais para a formação de aspectos que orientam os nossos princípios de ação em sociedade, orientam os parâmetros éticos que são historicamente construídos. Destaca-se que a ênfase em determinado modelo de nacionalismo proposto na BNCC, cujo objetivo destina-se à "formação do povo brasileiro", é tratada em chave épica, como na historiografia oitocentista. Estamos assim diante de uma ideia bastante limitada de cidadania – e da educação como uma espécie de "paideia" do cidadão -, limitada porque confunde "cidadania" com aprendizado de leis, regras e valores, não propondo a discussão de questões pertinentes na atualidade, como a relação com a mídia e o consumo, por exemplo.
Essa dimensão épica da História do Brasil, na qual só faz sentido o que é extensão da formação brasileira, não nos permite o importante exercício de olhar para o que se perdeu do passado e refletir sobre uma "perda" que não se explica unicamente pelas questões do presente. Daí a importância de ampliar o horizonte da "formação" a partir de "outros" passados, estendendo os horizontes de reflexão crítica sobre perspectivas diversas, entendendo-se o aluno como sujeito histórico na construção da realidade e do conhecimento socialmente produzido.
Por fim, preocupa-nos uma proposta de componente curricular que, conforme apontado pela ANPED, na manifestação a que nos referimos, confunde "conteúdos" com "objetivos de aprendizagem", isto é, submete a lógica do currículo à definição de "descritores" e "parâmetros" que poderão servir antes às avaliações em massa do que a uma efetiva formação integral dos alunos.
Diante da seriedade e complexidade do exposto acima, vimos solicitar que a Associação Nacional de História encaminhe as seguintes solicitações ao Ministério da Educação:
1. Ampliação do prazo de discussão da Base Nacional Comum Curricular e construção de um novo calendário nacional;
2. Solicitação de alteração ou pelo menos de ampliação da equipe de História da BNCC, que deverá contemplar diferentes subáreas de conhecimento da História, garantindo a interface entre a produção acadêmica e o ensino escolar;
3. Consideração da incorporação da ampla experiência acumulada do Pibid, por meio de seus coordenadores e dos professores envolvidos, na elaboração e na agenda de discussão da BNCC;
4. Criação de condições para uma rediscussão ampliada dos fundamentos do componente curricular de História;
5. Estabelecimento de diálogo com outras instituições científicas, em especial das Ciências Humanas, e formulação de um documento comum para encaminhamento ao MEC, acerca da BNCC.
Tais considerações e propostas foram discutidas e definidas por ocasião da Jornada de História sobre a BNCC, promovida pela Anpuh Rio no dia 18 de novembro de 2015 no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, evento que contou com a participação de professores das seguintes instituições: UFF, UFRJ, UFRRJ, PUC-Rio, UERJ, Fundação Getúlio Vargas, IFRJ, Colégio Pedro II, IUPERJ, Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro e Sindicado Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe).
História da América e a BNCC
Quem se debruça sobre o componente de História na BNCC logo perceberá que grande parte da história da humanidade não foi contemplada. A história da Antiguidade, da Idade Média, está ausente. A história da Idade Moderna e da Idade Contemporânea está sub-representada. A Europa moderna aparece em função das "conquistas" da América e da África...
Carta do Prof. Dr. Marcos Caldas sobre a proposta da BNCC
Carta de Repúdio à BNCC produzida pelo Fórum dos Profissionais de História Antiga e Medieval
Carta da Profa. Dra. Martha Abreu sobre a "Carta crítica" da Anpuh-Rio à proposta da BNCC
abraço,
martha abreu.
CARTA CRÍTICA DA ANPUH-RIO À COMPOSIÇÃO DO COMPONENTE CURRICULAR HISTORIA NA BNCC
A Base Nacional Comum Curricular foi divulgada pelo Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação Básica, em setembro de 2015, apresentando componentes curriculares sujeitos à consulta pública através de um portal online, aberto para este fim até dezembro. Louvamos a iniciativa do MEC em cumprir o que estava previsto desde 1996 na Lei de Diretrizes e Bases ...